Luiza Mudrik & Júlia Manzoli – 8ºA
Quando se fala sobre carne e seus impactos, tanto positivos quanto negativos no mundo, a primeira coisa que vem à mente, normalmente, é a carne bovina, depois, a carne de frango ou de peixes.
É comum esquecer da carne suína, isto é, a carne dos porcos. Nunca se pensa e analisa os impactos que a produção dessa carne gera no nosso planeta. Em função disso, a pesquisa realizada aborda três países: a Alemanha, os Estados Unidos da América, e, é claro, o Brasil.

De acordo com Elise Thoms, Luciane Silvia Rossa, Evelyn von Rosen Stahlke, Isabelle Dangui Ferro, Renata Ernlund Freitas de Macedo da Revista Acadêmica Ciência Animal, a carne suína tem um enorme valor nutricional e sensorial, e, por isso, é a mais consumida no mundo -e é a mais utilizada para a fabricação de derivados. Isso se deu por causa de uma enorme crise na Europa. Como a fabricação de carne suína era muito mais barata do que a de carne bovina (entre outras), começaram a utilizar a carne de porco para maiores produções e, consequentemente, a ser mais consumida. A Europa “precisou repor as proteínas” no mercado e por um valor mais acessível, por isso a troca. Apesar de ser a carne de maior consumo, é considerada um grande tabu alimentar por muitas religiões (como o judaísmo e o islamismo), que consideram impuro se alimentar dessa carne.
Custos da produção da carne
Pesquisas realizadas em 2015 por Marcelo Miele, pela EMBRAPA, mostram que o Brasil gasta aproximadamente 3 reais e 35 centavos, para alimentar os porcos que serão utilizados para fazer um quilo de carne. Para a mão de obra, são destinados 23 centavos. Na depreciação e custo da capital, são gastos 44 centavos, e, outras variáveis, podem custar até 67 centavos. Com isso, o total é de 4 reais e 69 centavos, que destinados para a produção de um quilo de carne. Já o preço nos mercados gira em torno de 6 reais.
Na Alemanha, os gastos são um pouco mais altos, tanto na fabricação, quanto na venda. Para a alimentação dos porcos, gastam 4 reais e 68 centavos. Para a mão de obra, 67 centavos. Para a depreciação e custo da capital, 1 real e 34 centavos e o mesmo para outras variáveis. A soma esses custos é de, aproximadamente, 8 reais –fabricação de um quilo dessa carne. Nos mercados, é vendida por, 7 reais e 40 centavos.
Nos EUA, a alimentação dos porcos custa 5 reais e 2 centavos. Já a mão de obra, 23 centavos. A depreciação e custo da capital equivale a 67 centavos, assim como outras variáveis. E, o total gira em torno de 6 reais e 59 centavos para a produção de um quilo de carne, e, nos mercados, é vendida por 7 reais e 36 centavos.
Mais informações sobre esses custos podem ser encontradas no link
- Na primeira imagem, é feita uma comparação dos gastos entre os países.
- A segunda imagem é um gráfico que compara os gastos dentro do Brasil, ou seja, a proporção de cada um dos gastos
- A terceira imagem é um gráfico que compara os gastos dentro da Alemanha, ou seja, a proporção de cada um dos gastos
- A quarta imagem é um gráfico que compara os gastos dentro dos Estados Unidos ou seja, a proporção de cada um dos gastos
Mão de obra e custos da produção no Brasil
Um produtor de carne suína no Brasil tem um custo benefício de 1 real e 34 centavos por quilo de carne, ou seja, aproximadamente 4.267.217.940 reais por ano, descontando o preço dos porcos. Ou seja, esse é o lucro que todo o processo de produção tem, sem contar com o preço da compra dos porcos. Para a mão de obra, são destinados 0,23 reais por quilo de carne, como já visto anteriormente. Isso resulta em, aproximadamente, 732.432.930 reais por ano. Com esse valor destinado à mão de obra, todo o processo de fabricação da carne pode levar até 58.408 trabalhadores que ganhem o salário mínimo (mensalmente). Isso significa que, se os trabalhadores receberem o salário mínimo, poderão trabalhar nessa indústria 58.408 trabalhadores, sem nenhum tipo de troca, no período de um ano, aproximadamente.
Uso da água na alimentação e produção de dejetos
Segundo a Instituição Normativa N°11 da Função de Amparo à Tecnologia a ao Meio Ambiente (FATMA), a produção de suínos, no Brasil, é dividida em duas fases: a fase creche (quando os porcos ainda estão pequenos, ainda são “crianças”), onde os porcos ficam confinados durante 34 dias e a fase de crescimento/terminação, onde eles ficam confinados durante 111 dias.
No início da fase creche, o consumo de água por porco em um dia, é de aproximadamente 1,41 Litros, que, até o final do confinamento, aumenta em 3,62 vezes, equivalente a 5,11 Litros. Já o descarte de dejetos, no início do confinamento, é de 0,53 litros por porco diariamente. No fim dos 34 dias, foi observado um aumento de 5,56 vezes –equivalente a 2,95 litros. Até o fim desse primeiro confinamento, um porco consome, aproximadamente, 79,04 litros de água e produz 39,66 litros de dejetos.
Na fase de crescimento, o consumo de água no início é de 4,48 litros por suíno diariamente e, até o fim dessa fase, o consumo de água pode aumentar em até 1,98, equivale a 8,86 litros. No descarte de dejetos, no “dia 1“, um porco produz, aproximadamente, 3,33 litros de dejetos e, ao fim do confinamento, ele passa a produzir 1,82, equivalente a 6,05 litros. Até o fim desse confinamento, um porco sozinho consome em média, 761,53 litros de água e produz 542,66 litros de dejetos.
Para compreender melhor os dados acima, acesse o link
- A primeira imagem compara o consumo de água entre a fase creche e a fase terminal.
- A segunda imagem é um gráfico comparativo, que mostra o descarte de dejetos na fase creche e terminal.
- A terceira imagem é um gráfico comparativo, que mostra o consumo total de água e descarte de dejetos dentro da fase creche.
A quarta imagem é um gráfico comparativo, que mostra o consumo total de água e descarte de dejetos dentro da fase de crescimento (terminal).
Descarte de dejetos e seus possíveis tratamentos
De acordo com uma pesquisa da EMBRAPA de 2002, realizada por Roberto Diesel, Cláudio Rocha Miranda e Carlos Cláudio Perdomo, dejetos suínos são, basicamente, constituídos por fezes, urina, água (desperdiçada pelos bebedouros e de higienização), restos de ração, pelos, poeira etc. A suinocultura não é nenhum pouco sustentável, principalmente quando se trata de descarte de dejetos. Além de exalar um odor extremamente desagradável, o manejo inadequado de dejetos pode causar gases nocivos e risco de poluição dos mananciais de água tanto superficiais quanto subterrâneos. Sem contar com problemas de custo, transporte, tratamento, armazenamento e utilização agronômica de dejetos (que pode gerar um manejo inadequado). Existem algumas possibilidades de tratamentos de dejetos que são muito mais sustentáveis e que têm menos impactos negativos no ambiente. Acesse a tabela abaixa para ver as vantagens e desvantagens de cada tratamento, baseada em uma pesquisa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Acesse-a clicando no link abaixo.
Clique nos nomes dos métodos para ler a explicação. LINK
Analisando esse quadro, é perceptível que a cama sobreposta é uma das melhores opções, pois, além de ter baixo custo, faz com que esses dejetos possam ser retornados à natureza de forma “saudável”, ou seja, não terá tantos impactos negativos –muito pelo contrário, como os dejetos se tornarão adubo, eles farão muito bem para a terra. Porém, aqui no Brasil, os processos mais utilizados são as esterqueiras e as lagoas de decantação, o grande problema é que esses dois métodos exalam muitos odores, poluindo o ar olfativamente. Os produtores de grandes empresas costumam usar o biodigestor, pois ele gera biogás, que é, basicamente, um gás utilizado para gerar energia. Isso permite que o produtor gere algum tipo de lucro vendendo o biogás (ou a energia gerada pelo ele) e “dá” à empresa um crédito de carbono (certificado que mostra que a empresa ajudou com a redução de emissão de gases do efeito estufa). Esse método vem sido muito utilizado, desde os anos 70, quando foi criado. O uso da cama sobreposta e de compostagem vem aumentando aos poucos, mas não são métodos muito utilizados. Os produtores enfrentam muitos desafios no quesito sustentabilidade, apesar de todos os métodos de tratamento serem usados no Brasil. Isso acontece principalmente por causa da pressão que os produtores, sofrem pelas grandes empresas e, mesmo que indiretamente, os consumidores. Todos querem maior quantidade de porcos para serem tratados em menos lugares, o que aumenta muito a produção e, consequentemente, o consumo da carne. Com isso, o número de dejetos fica cada vez maior, o que faz com que medidas tenham que ser tomadas rapidamente. A sustentabilidade econômica tende a ser priorizada nesse processo, por isso os produtores acabam optando por métodos mais tradicionais e funcionais, porém não são os mais sustentáveis.
Descarte de dejetos e seus possíveis impactos
Quando os dejetos são manipulados de forma incorreta, eles podem acarretar muitos impactos ambientais negativos, tais como: contaminação do lençol freático, salinização, acumulação de elementos tóxicos, desequilíbrio de nutrientes no solo, impermeabilização e contaminação das culturas por meio da transmissão de patógenos e parasitas, isto é, contaminação de células por causa de organismos que possam causar doenças. Além disso, o manejo inadequado pode gerar proliferação mais rápida de insetos e bactérias resistentes a antibióticos. A principal causa de poluição é o lançamento direto, sem tratamento de dejetos, na água, o que leva a desequilíbrios ecológicos e poluição direta nos cursos d’água, além de ajudar a “espalhar” patógenos e contaminar água potável. A poluição ambiental que esse manejo inapropriado provoca vem sendo um assunto muito falado. A sociedade tem dado cada vez mais importância a assuntos relacionados a sustentabilidade. Por causa dessa demanda, os criadores de suíno têm investido em encontrar soluções tecnológicas que sejam adequadas ao manejo dos dejetos.
As paisagens são drasticamente modificadas para a suinocultura, tanto fisicamente quanto sensorialmente. Uma floresta tem “ar puro” muitas árvores e muito “verde”. Se uma produção de suínos passar a ser ali, muitas árvores serão cortadas para abrir espaço para as máquinas, e o local passará a ter um forte odor se os dejetos forem mal cuidados.
Com isso, pode concluir-se que, se o consumo dessa carne não for exagerado e for consciente, não tem problema nenhum se alimentar de carne suína. Muito pelo contrário, a carne de porco é rica em vitamina B1, que participa do metabolismo energético e melhora o funcionamento do sistema nervoso e niacina, que melhora a saúde da pele e o funcionamento do sistema digestivo. Também estará dando trabalho para muitas pessoas como produtores dessa carne.
Uma sugestão que muitos especialistas dão, é deixar de comer carne por um dia, pois isso reduz em níveis absurdos os impactos que a carne gera em nosso planeta e não altera muito a dieta da pessoa. Se todas as pessoas fizessem isso, teríamos uma redução no consumo de carne de, aproximadamente 14,3% semanalmente. Não é preciso parar de comer carne, apenas prestar mais atenção no consumo, não exagerar e tentar descobrir o processo de produção daquela carne, qual foi o método utilizado para manejar os dejetos e qual tipo de impacto esse método tem. Prestando atenção em simples atos diários, podemos ajudar muito o mundo, porém todos precisamos fazer a nossa parte.
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FONTES:
Perfil de consumo e percepção da qualidade da carne suína por estudantes de nível médio da cidade de Irati, PR
Elise Thoms, Luciane Silvia Rossa, Evelyn von Rosen Stahlke, Isabelle Dangui Ferro, Renata Ernlund Freitas de Macedo
Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/cienciaanimal/article/view/11006
Acesso em 03/11/2020
Custos de produção de suínos em países selecionados, 2015
Marcelo Miele
Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/155252/1/final8373.pdf
Acesso em 03/11/2020
Consumo de carne suína cresceu 30% nos últimos quatro anos no Brasil
Redação SI
Disponível em: https://www.aviculturaindustrial.com.br/imprensa/consumo-de-carne-suina-cresceu-30-nos-ultimos-quatro-ano-no-brasil/20191003-102312-x328
Acesso em 03/11/2020
Carne de porco
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carne_de_porco
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AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS NA PRODUÇÃO DE SUÍNOS NO IFMA/CAMPUS CODÓ
Cindhi Barros Mayara Rodrigues Eliana Vieira Rosemberg Carvalho Cristina Pereira
Disponível em: https://downloads.editoracientifica.org/articles/200400072.pdf
Acesso em 06/11/2020
ANÁLISE DO CONSUMO DE ÁGUA E DO VOLUME DE DEJETOS NA
CRIAÇÃO DE SUÍNOS
Marildo Guerini Filho, Arlan Luís Dal Soler, Camila Elis Casaril, Marluce Lumi, Vanessa Paula Reginatto, Odorico Konrad
Disponível em: https://periodicos.ufv.br/rbas/article/view/2876/1350
Acesso em 09/11/2020
RECENTES AVANÇOS NA NUTRIÇÃO DE SUÍNOS
Silvano Bünzen , Sandra Salguero, Luiz F.T. Albino e Horacio S. Rostagno
Disponível em: http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/publicacao_k5s77d2o.pdf#page=84
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KÁTIA NONES
Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/117606/138726.pdf?sequence=1
Acesso em 11/11/2020
O Foodnews apresenta os dados de consumo de carne suína no Brasil desde a década de 90.
Afinal, como evoluiu o consumo de carne suína no Brasil em termos percapita ao longo de quase 20 anos?
IVAN FORMIGONI
Disponível em: http://www.farmnews.com.br/dados/consumo-de-carne-suina/
Acesso em 12/11/2020
Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação
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Acesso em 12/11/2020
Preço suínos
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Disponível em: https://www.mfrural.com.br/produtos/3-554/suinos
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Disponível em: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/cias/precos
Acesso em 13/11/2020
Mais competitividade na suinocultura
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O que é contaminação de células?
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O que é patógeno?
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Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-patogeno.htm#:~:text=Denominamos%20de%20pat%C3%B3genos%2C%20organismos%20que,%3A%20fungos%2C%20protozo%C3%A1rios%20e%20v%C3%ADrus.
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Avaliação da produção de biogás de dejetos de suínos utilizando a metodologia de superfície de resposta
Adriano Cancelier, Ubiridiana Patrícia Dal’ Soto, Murilo Cesar Costelli, Toni Jefferson Lopes e Adriano da Silva
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-41522015000200209&script=sci_arttext&tlng=pt
Acesso em 17 /11/2020
Das pequenas produções à agroindústria: suinocultura e transformações na paisagem rural em Chapecó, SC
Samira Peruchi Morett e Marlon Brandt
Disponível em: https://www.periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180311262019229/9989
Acesso em 17/11/2020
Conheça os benefícios da carne de porco para a sua dieta
Fonte: Estadão Conteúdo
Disponível em: https://cidadeverde.com/noticias/298874/conheca-os-beneficios-da-carne-de-porco-para-a-sua-dieta#:~:text=A%20carne%20de%20porco%20%C3%A9,o%20funcionamento%20do%20sistema%20digestivo.
Acesso em 17/11/2020
Boletim Informativo de Pesquisa—Embrapa Suínos e Aves e Extensão—EMATER/RS
Roberto Diesel, Cláudio Rocha Miranda e Carlos Cláudio Perdomo
Disponível em: http://docsagencia.cnptia.embrapa.br/suino/bipers/bipers14.pdf
Acesso em 18/11/2020