Marina Spadoni Bueno e Gabriela Corrêa Dalcanale
Este trabalho é resultado de pesquisas sobre os recursos naturais que são utilizados na produção de roupas atualmente e reflexões sobre os impactos causados pelas indústrias, em escala nacional e global.
Esses recursos sempre foram importantes nas roupas de várias populações durante os Períodos da História. Na Pré-História, por exemplo, quando os homens matavam animais, utilizavam sua pele como roupa e se esquentavam. Já na Idade Média, reis e rainhas usufruíam de tecidos de seda, cujos fios eram fabricados a partir do casulo do bicho-da-seda. Atualmente, há muitas lojas, shoppings e marcas diferentes para escolher, então a venda de vestuários é feita em grande escala.
Matérias-primas utilizadas na trama de tecidos
As matérias-primas utilizadas na indústria têxtil são diversas e a principal finalidade é apresentar diferentes soluções em fibras, proporcionando muitos tecidos para população. Conforme o Febratex Group, se conhecido como cada material se comporta, as empresas poderão direcionar qual tecido é mais adequado para cada modelo de roupa.

As matérias-primas aplicadas podem ser de origem química ou natural. Várias opções de fios provêm da natureza e sua fonte pode ser animal e vegetal, como lã, seda, linho, algodão e rami. Já as matérias-primas de origem química podem ser de procedência vegetal ou petroquímica e são classificadas como artificiais e sintéticas, como o acetato e viscose.
O consumo de água nas indústrias
A água também é fundamental para produção de vestimentas, principalmente naquelas que utilizam recursos naturais. Todos os anos, a indústria têxtil consome 93 trilhões de litros de água, o que significa 4% da captação mundial de água doce anual.
Conforme a matéria da ativista ambiental Fe Cortez publicada no site “Menos 1 Lixo”, para cultivarmos 1kg de fibra do algodão, são necessários 7 a 29 mil litros de água. Para a produção da camiseta, consome-se quase 2kg de combustíveis fósseis e 2,7 mil litros de água, sem contabilizar os impactos da lavagem, passar ou descartar.

Os impactos no esgotamento da água causados pelas indústrias é um grande problema. A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que o abastecimento de água doce do planeta está ameaçado e que se mantivermos o consumo altíssimo para produção desses recursos naturais, grande parte da população terá dificuldade no acesso à água.
A segunda indústria mais poluente do mundo
Com a facilidade no acesso às compras de vestimentas, as peças são descartadas e trocadas rapidamente pela população. Com base nos dados da “BBC News Brasil”, a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo. Isso se dá por causa dos impactos da tendência “moda rápida”, marcada pelos preços baixos e rápido descarte, multiplicando os problemas ambientais.

Os pequenos detalhes em relação à confecção de roupas já causam impactos significativos na produção de lixo do país. No Brasil, a estimativa de retalhos que são descartados nas indústrias é de 175 mil toneladas por ano. Desse total, apenas 36 mil toneladas são reaproveitadas na produção de novas peças de roupas, fios, barbantes ou mantas.
Segundo estimativa do Programa da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o volume de resíduos urbanos deve aumentar de 1,3 bilhão de toneladas (dado de 2016) para 2,2 bilhões de toneladas até 2025. Em relação ao descarte do lixo no Brasil, apenas 58% do total coletado tem como destino os aterros sanitários que funcionam de acordo com as exigências legais. O restante é despejado em aterros controlados (24,2%) e em lixões (17,8%), e somente cerca de 4% é reciclado.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), está trabalhando para estimular a adoção de padrões sustentáveis de produção, desenvolvendo tecnologias limpas e incentivando a indústria da reciclagem. Uma possibilidade interessante é a inclusão dos catadores de materiais recicláveis nas ações que envolvam essa gestão sustentável, pois em geral, os resíduos têxtis são 100% recicláveis.

Liberação dos poluentes na água e no ar
A jornalista Suzana Camargo, (que já trabalhou em rádios, televisão, revistas e como editora de jornalismo na Globo) indica que esse setor emite 1,2 bilhão de toneladas de gases do efeito estufa por ano – mais do que o transporte marítimo e a aviação juntos. Além disso, de acordo com Rafael (outro jornalista do site), o setor da moda libera 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos todos os anos, além de poluir o solo a partir do uso de pesticidas no plantio de fibras naturais. Infelizmente, já foram encontradas fibras plásticas no estômago de animais que vivem no oceano.

Emprego no setor da moda
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT, 2013), este setor emprega cerca de 1,7 milhão de brasileiros, sendo que 75% são funcionários do segmento de confecção. Em 2012, o faturamento das indústrias de fabricação do tecido e confecção foi de US$ 56,7 bilhões. O setor reúne mais de 32 mil empresas, das quais mais de 80% são confecções de pequeno e médio portes em todo o território nacional. Mesmo as indústrias que são classificadas em micro e pequenas empresas, várias vezes, possuem toda a estrutura do processo produtivo: modelagem, enfesto, corte, costura, arremate e acabamento.
Há um aspecto assustador envolvendo os empregos na produção de vestuários: a mão de obra “escrava”. Em 1990, a Nike foi acusada de utilizar trabalho infantil em fábricas na Ásia. A falta de ética no processo de fabricação de mercadorias por grandes empresas foi muito discutida pela sociedade na época.
Outro exemplo: de acordo com o jornal “Repórter Brasil”, os costureiros que fabricavam peças para a Zara recebiam, em média, 2 reais por roupa costurada. Ainda de acordo com esse jornal, em junho de 2011, a reportagem foi até uma loja da empresa na Zona Oeste de São Paulo e encontrou uma blusa semelhante sendo vendida por R$ 139,00.
O esgotamento de recursos naturais no planeta
Muitos setores de produção contribuem para o esgotamento de recursos naturais no planeta, como a água. Outro exemplo é o petróleo que também terá seu esgotamento.
Calças ou malhas de poliéster são feitas a partir de uma fibra sintética, a mais usada na indústria têxtil em todo o mundo. São usados 70 milhões de barris de petróleo todos os anos para fabricação e demora mais de 200 anos para se decompor. A Agência Internacional de Energia publicou em seu relatório anual World Energy Outlook, de 2010, que a produção de petróleo deve atingir seu pico por volta de 2035 e dependendo da quantidade e rapidez que for utilizado, logo a substância se esgotará.
A viscose, outra fibra artificial, mas feita de celulose, exige a derrubada de 70 milhões de árvores todos os anos.
Apesar de natural, o algodão é a uma fibra cujo cultivo é o que mais demanda uso de substâncias tóxicas no mundo: 24% de todos os inseticidas e 11% de todo os pesticidas e, assim, causa impactos no solo e na água.
Transformações nas paisagens decorrentes das indústrias têxteis
As transformações que ocorrem nas paisagens são decorrentes das atividades humanas e do local onde se encontram. Quando instalada uma indústria em determinada localidade, ocorrerão mudanças: mais poluição gerada, serão descartados materiais em regiões próximas e mais pessoas irão se instalar naquele local, em busca de empregos na produção, confecção e administração daquela empresa. Assim, a cidade fica mais movimentada e passando aos poucos de “paisagem indiretamente transformada” para “intensamente transformada”.

Na imagem, são observados vários impactos de transformação na paisagem e sociedade do local. Ocorrem as mudanças climáticas, poluição de diversos meios e maus tratos aos animais e pessoas. Devemos pensar em como transformar um dos maiores e mais lucrativos setores do mundo em algo sustentável e ético e, assim, executar as ideias para melhor desenvolvimento da sociedade.
Agradecimentos
Este trabalho foi realizado a partir de pesquisas sobre os recursos naturais usados na indústria têxtil. Foram utilizadas fontes confiáveis que trabalham com especialistas no assunto, contribuindo para a escrita do texto de divulgação científica.
MATÉRIA PRIMA:
- Site “Febratex Group” – https://fcem.com.br/noticias/tipos-de-materias-primas-utilizadas-na-industria-textil/
ÁGUA UTILIZADA NA PRODUÇÃO:
- Site “menos 1 lixo” – https://www.menos1lixo.com.br/posts/o-consumo-de-agua-pela-industria-textil
RELAÇÕES DE TRABALHO:
- Organização Fashion Revolution – https://www.fashionrevolution.org/brazil-blog/residuos-texteis-a-pratica-de-descarte-nas-industrias-de-confeccao-do-vestuario/
- Jornal Repórter Brasil – https://reporterbrasil.org.br/2011/08/roupas-da-zara-sao-fabricadas-com-mao-de-obra-escrava/
PRODUÇÃO E DESCARTE DE RESÍDUOS:
- Jornal Porto Gente (mundial) – https://portogente.com.br/noticias/meio-ambiente/82179-os-impactos-ambientais-decorrentes-da-cadeia-produtiva-textil
ESGOTAMENTO DE RECURSOS:
- Revista Superinteressante – https://super.abril.com.br/ciencia/esgotamento-dos-recursos-naturais/
- BBC News Brasil – https://www.bbc.com/portuguese/geral-39253994