Lais D. Oliveira e Maria Eduarda C. Lamy
O presente trabalho é resultado de pesquisas reunidas, vindas de diferentes sites e autores, com o intuito de analisar como a indústria têxtil influencia tanto na sociedade quanto no meio ambiente.
Com a evolução da espécie humana e a perda dos pelos corporais, veio a necessidade de se cobrir, para então se proteger do clima hostil e compensar mudanças climáticas. Antes, buscava-se essa proteção em peles de animais, muitas vezes daqueles que eram caçados para serem comidos, aproveitando-se de todos os recursos disponíveis. Mais tarde, iniciou-se a utilização de outros materiais e ferramentas para a produção de roupas como, por exemplo, a costura com fibras vegetais e agulhas rudimentares.
Com o passar do tempo, os seres humanos deixaram de se vestir apenas com a finalidade de se proteger e o vestuário tornou-se uma questão de estética. Essa mudança tornou as roupas necessárias e, à medida que surgem novas tendências a preços mais baixos, o consumo aumentou, o que afetou e afeta, de diversas maneiras, o meio ambiente.
O CONSUMO E O MEIO AMBIENTE
Hoje em dia, para a produção de qualquer peça de roupa, é necessária uma grande quantidade de água, desde a produção de sua matéria prima às lavagens que serão feitas pelo consumidor. Para fabricar uma calça jeans, por exemplo, são utilizados cerca de 10.000 litros, e, para produzir um par de sapatos, são necessários cerca de 8.547 litros de água.
Também há a geração e o despejo de efluentes, contendo compostos recalcitrantes, muitos destes passíveis de acumulação em organismos vivos, podendo atingir concentrações superiores à dose letal — notadamente em invertebrados e peixes —, demandando intervenções específicas para a efetiva descontaminação. Já para os resíduos sólidos, tem-se o estabelecimento de procedimentos mais adequados ao manejo, capacitação dos funcionários e adequações ao programa de manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos.
Além da liberação de poluentes na água e na terra, o ar também é afetado, como no transporte e nas fábricas, que liberam uma alta concentração de CO2 na atmosfera. Segundo a jornalista Suzana Camargo, (que já trabalhou em rádios, televisão, revistas e foi editora de jornalismo na Globo), o setor têxtil emite 1,2 milhões de toneladas de gases do efeito estufa por ano.
O papel do consumidor de novos produtos, e não somente os do criador e as indústrias, é determinante para o desenvolvimento sustentável. A escolha dos meios de descarte — vender, doar, customizar e jogar no lixo — depende de atributos e motivações, mas quanto maior for a demanda, maior será a produção, que provocará todos aqueles fatores citados anteriormente.
Essas questões afetam, inclusive, as paisagens que são alteradas, tanto pelos resíduos descartados em lugares impróprios quanto as modificações feitas no ambiente para a extração de recursos naturais utilizados nas produções da indústria.
ESGOTAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS PARA A OBTENÇÃO DA MATÉRIA PRIMA
Diversas matérias primas são utilizadas nas confecções de artigos do vestuário, as principais são: algodão, poliéster, elastano, lã, seda, viscose, tencel e linho. Existem matérias primas naturais, como o algodão, que consiste em uma fibra natural, resistente e longa, o que garante excelente durabilidade e qualidade ao tecido. Existem também as químicas, como poliéster, que, por sua vez, é uma fibra sintética usada especialmente em misturas quando se pretende reduzir a característica amassada do tecido. Essa fibra é produzida a partir do petróleo, ou seja, por meio de recursos não renováveis.
O petróleo, como muitos outros recursos, é finito. Segundo pesquisa publicada pela Agência Internacional de Energia Outlook em 2010, a produção do petróleo deve atingir seu pico por volta de 2035 e depois terá uma queda constante. Já em 2012 a Organização das Nações Unidas (ONU) alertava que a água doce no planeta também está ameaçada e, em consequência, nossa sobrevivência. Mantidos os padrões de consumo e danos ambientais, estimou-se que, em 2015, dois terços da população do planeta (5,5 bilhões de pessoas) poderiam ter dificuldades de acesso à água potável, e que, em 2050, a dificuldade poderia atingir 75% da humanidade.
TRANSFORMAÇÕES DO VESTUÁRIO E DA SOCIEDADE
Em alguns períodos da história, a moda foi um meio de diferenciação de classes, como na idade média, quando cada cor tinha um significado diferente — os ricos, ou a realeza, tinham cores especificas que não podiam ser usadas de maneira alguma por plebeus e vice-versa. Em outros momentos, a moda foi a representação de uma agência política, mas sua abrangência se transpõe do modo de se vestir, adornar-se e comportar-se nas sociedades segundo as normas de cada época. O traje feminino, no decorrer dos séculos, também teve grande evolução. Ao observar as roupas voltadas às mulheres, é possível reparar nos níveis sociais atribuídos a elas, algo que, felizmente, tem perdido importância.

Outra questão importante é a permanência de condições de trabalho análogas às de escravo no setor de produção de roupas. A mentalidade escravagista no Brasil é de longa duração, e, infelizmente, persiste nos dias atuais, gerando uma escravidão sob nova roupagem (inclusive em setores de grande destaque, como na moda). Essa mesma indústria têxtil, abastecida pelo algodão brasileiro cultivado por escravizados. Apesar da escravidão oficial ter sido abolida, na prática, ela não se extinguiu.
Em 2011, veio à tona a utilização de trabalho análogo ao escravo, no Brasil, pela mundialmente conhecida marca Zara. Em operação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) juntamente com o Ministério Público do Trabalho (MPT), foram encontrados 15 imigrantes bolivianos, dentre os quais uma menina de 14 anos, em uma das oficinas que produziam roupas para a marca. Esse é um exemplo entre vários já registrados.

A moda controla, abusa e dita o que se pode ou não fazer, impõe o que usar por determinado tempo, como ser e aparentar. Domina todas as classes sociais, independentemente de etnias, religiões e ideologias, o que a torna mais responsável pelo que dita. Assim, é de se perguntar de que forma a moda pode adotar atitudes sustentáveis e fazer as pessoas serem mais conscientes sobre o que consomem, contribuindo para um consumo mais correto do ponto de vista ambiental.
REFERÊNCIAS:
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Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=dPyrDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT2&dq=mat%C3%A9ria+prima+de+roupas&ots=SU8ACsh7TH&sig=2W2YF1fQkfCRRQf40XMBPpz48tI#v=onepage&q=mat%C3%A9ria%20prima%20de%20roupas&f=false Acesso em 04/11/2020
FCEM, Confira 8 tipos de matérias-primas utilizadas na indústria têxtil Disponível em: https://fcem.com.br/noticias/tipos-de-materias-primas-utilizadas-na-industria-textil/ Acesso em 10/11/2020
A PERMANÊNCIA DO TRABALHO ESCRAVO NO SETOR DA PRODUÇÃO DE ROUPAS NO BRASIL NO SÉCULO XXI: DA MODA DA ESCRAVIDÃO À ESCRAVIDÃO NA MODA
Disponível em: http://san.uri.br/revistas/index.php/direitosculturais/article/view/29 Acesso em: 09/11/2020
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Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/03/saiba-quanta-agua-e-consumida-durante-a-fabricacao-de-produtos.shtml Acesso em: 9/11/2020
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Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/deutsche-welle/2019/04/03/a-industria-da-moda-e-os-danos-ao-meio-ambiente.htm
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Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-39253994 Acesso em: 15/11/2020