Um fórum para refletir sobre relações raciais na escola

Gabriela Del Carmen

A edição de 2021 do Fórum de Debates, projeto organizado anualmente para os alunos, professores e funcionários do Ensino Médio discutirem temas relevantes da sociedade brasileira, teve como tema central as relações raciais na escola. Os jovens foram divididos em 16 grupos, cada um responsável por debater dois dos nove indicadores de educação antirracista extraídos de um material de formação da ONG Ação Educativa.

Em pauta, tópicos desafiadores: intervenção contra xingamentos; quebra de silêncio e mudança de olhares para desnaturalizar o racismo; distribuição de afeto e atenção, e fortalecimento de relações de amizade; reconhecimento do corpo e da estética negra; abordagem da indisciplina, sem exclusão; construção positiva do pertencimento racial; valorização das meninas e mulheres negras; democratização do acesso aos lugares de poder; superação da intolerância religiosa e a garantia de uma educação laica.

“Os alunos se juntaram para enfatizar o que havia de problemático na escola e o que era possível fazer para melhorar”, diz uma das alunas que se formou no 3º ano em 2021. Os estudantes apontaram que há de fato pessoas negras na comunidade escolar, mas em número ainda baixo, o que dificultaria a percepção da existência de discriminação.

Também avaliaram que na escola há poucos professores que se autodeclaram negros, e que esse autorreconhecimento se torna mais viável em um ambiente em que as pessoas se reconheçam e se sintam representadas entre os colegas. “Das ideias que ouvi, minhas favoritas foram a de ter mais educadores negros na escola e também um psicólogo negro. Como mulher negra, acho muito mais fácil falar sobre essa pressão com pessoas que passaram pelo mesmo que eu”, explica a estudante.

Refletindo sobre o papel da escola na construção de um ambiente inclusivo e antirracista, os grupos afirmaram que situações de discriminação acontecem no ambiente escolar, mas apenas chegam à coordenação caso tomem uma proporção maior. Como obstáculos para solucionar os problemas, os alunos apontam o medo de comunicar os casos de racismo ou agressão e incerteza sobre quais são os canais mais adequados e eficientes para a comunicação.

Para Ana Bergamin, coordenadora do Ensino Médio, as reflexões ajudam a escola a dimensionar um plano de ação que dialogue com o trabalho de educação antirracista que o Vera está propondo fazer. “Em todos os grupos houve muito engajamento por parte dos alunos. Foram excelentes conversas”, afirma. Um relato da dinâmica em um dos grupos do Fórum de Debates pode ser lido aqui.


Referência antirracista

Durante o período de ensino remoto, o antropólogo brasileiro-congolês Kabengele Munanga, professor da USP, participou de uma live com as turmas do Ensino Médio para falar sobre racismo na sociedade brasileira. Na palestra, mediada pela professora de geografia Marli de Barros, o especialista abordou temas como violência policial contra negros, políticas afirmativas nas escolas públicas e casos atuais de racismo sistêmico, como a morte do menino Miguel Otávio, de cinco anos, e do norte-americano George Floyd. “Só a educação pode trabalhar essas questões. Uma educação plural e antirracista, que contemple todas as nossas diferenças”, afirmou o antropólogo. 


A vez da capoeira

Como parte do Festivera, evento artístico e cultural que acontece todos os anos no Ensino Médio, a escola recebeu a visita virtual do mestre de capoeira Alcides de Lima. “A capoeira do passado era um importante movimento de resistência e negação do sistema escravista. A de hoje está ligada à educação e à formação do indivíduo, desenvolvendo aptidões pela música, dança, teatro e literatura oral, e trabalhando habilidades físicas, cognitivas e sensoriais”, explicou o convidado. Em sua fala, Alcides abordou as relações entre negritude, capoeira e antirracismo e defendeu que a capoeira precisa estar alinhada a um projeto de encantamento, formação e respeito às diferenças.

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.