Editorial

Nomes de publicações são assunto complicado. Caminha-se na fina fronteira entre o óbvio e o incompreensível, torcendo para que a escolha remeta ao tema em destaque e, com alguma sorte, traga consigo sentidos surpreendentes. Por aqui, gostamos de pensar que Zum-Zum é um nome desse tipo. Aponta para o barulho que tomou o Vera desde o início de seu projeto de educação antirracista, e lembra Zumbi, símbolo máximo da resistência ao racismo à brasileira. De carona, é morada de uma lúdica onomatopeia-quase-mantra, e leva hífen, que também é ponte, caminho de união para a travessia. Há um tanto do espírito da Escola e do Instituto nesse Zum-Zum. Nomes são, afinal, identidades.

Esta publicação eletrônica nasce com um duplo objetivo. O primeiro é registrar a riqueza do projeto de educação antirracista do Vera em todos os seus segmentos. Aqui, a meta é visibilizar para a comunidade aquilo que muitas vezes só está à vista de quem se engajou nas propostas. O bloco Práticas Pedagógicas dialoga diretamente com esse desejo. Do Infantil ao Ensino Superior, são dezenas de atividades dentro e fora de sala, eventos especiais e projetos interdisciplinares. Já a seção Comunidade trata das transformações entre alunos, famílias e equipe da Escola. A ampliação da diversidade racial não se restringe às famílias negras e indígenas contempladas com bolsas de estudo desde 2021, mas também aos muitos professores e gestores negros e negras e indígenas contratados no período.

O segundo objetivo é aprendermos juntos. Consciente de seu pioneirismo no terreno da educação antirracista, o Vera traz reflexões sobre os temas mais importantes pelo olhar de quem pesquisa, cria e luta pelo letramento racial. É o espaço das Reportagens – que nesta edição falam de bell hooks, os estereótipos sobre povos indígenas e um balanço do primeiro ano do projeto do Vera –, da Opinião de Silvane Silva, coordenadora da pós em educação antirracista no Instituto Vera Cruz, e do Roteiro de indicações culturais. Para a Entrevista, preparamos uma surpresa: as conversas com especialistas estarão disponíveis em texto e também na íntegra em formato Podcast

Um projeto dessa dimensão exige apoio de muitas mãos. Isso não faltou em nossa comunidade: seria preciso uma revista à parte para agradecer a todos e todas que se engajaram ativamente nas ações de educação antirracista. Cabe, porém, menção especial aos dois espaços de gestão democrática sem os quais não chegaríamos onde estamos. O primeiro é o Comitê da Diversidade Racial, um grupo interracial com representantes de todos os segmentos da escola que, entre suas múltiplas atribuições, assina este editorial. O outro é o Grupo Guardião, que conta com 51 integrantes para fazer as autoavaliações institucionais participativas, abertas à comunidade. A esses dois coletivos, nossa gratidão pelo trabalho e pela luta. 

Como mãos nunca são demais, estamos aqui também para convidar: precisamos das suas. Leia os textos, veja os vídeos, ouça o podcast. Se quiser mais detalhes, confira o Documento de Sistematização do Projeto de Educação Antirracista do Vera. Depois, conte para a gente o que você achou. Por aqui, o barulho é resultado de um coro de vozes. O Zum-Zum no Vera está apenas começando.

Comitê da Diversidade Racial da Escola Vera Cruz

2 respostas

  1. Grande iniciativa do Vera!!! Minha escola do Maternal ao Fundamental!
    Parabéns, Vera! Desejo sucesso na transformação das cabecinhas das crianças, adolescentes e adultos envolvidos em todo o projeto.
    Que tenhamos outro país, sem discriminação.
    Abraços,
    Ana.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.