Um curso de extensão pela voz dos educadores

Lisângela Kati do Nascimento e Silvane Silva

“Educação antirracista: princípios, desafios e possibilidades no contexto escolar” é o título do curso de extensão desenvolvido ao longo dos meses de agosto, setembro e outubro de 2021 pelo Instituto Vera Cruz. O objetivo principal foi contribuir com subsídios teóricos, conceituais e didáticos para fomentar a construção de práticas pedagógicas antirracistas nos segmentos da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos e Ensino Superior, tanto em instituições públicas quanto privadas. Estiveram presentes 42 pessoas, incluindo professores, gestores e outros profissionais da educação do município de São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro.

O curso foi estruturado considerando os principais entraves para o desenvolvimento de uma educação antirracista – além do racismo estrutural e de seus impactos na sociedade brasileira, a influência do mito da democracia racial no currículo escolar e nos materiais didáticos. As atividades procuraram enfatizar a urgência do pensamento decolonial para a reconstrução das práticas pedagógicas. Conhecer e refletir sobre a presença da colonialidade na sociedade e, consequentemente, no interior da escola, permite aos educadores e às educadoras adquirir consciência da presença do racismo no cotidiano escolar e ampliar a responsabilidade de cada profissional em identificar, alterar seu comportamento e interromper o ciclo de opressão.

O retorno muito positivo dos participantes e diversas solicitações de continuidade de estudos levaram o Instituto a eleger a educação antirracista como tema de sua nova pós-graduação. A ideia é contribuir para a formação continuada de professores e de profissionais da educação que buscam compreender o quanto e como o racismo faz parte de nossa estrutura social para, com capacidade crítica de se colocarem contra esse sistema, elaborar e desenvolver propostas pedagógicas antirracistas em todos os segmentos da Educação.

A seguir, trechos dos depoimentos dos cursistas:

“Participar do curso foi uma mudança de percurso na minha atuação em sala de aula e também como cidadã. Não sei se conseguiremos ultrapassar o colonialismo e o racismo, mas podemos falar mais sobre eles. Seremos multiplicadores desses saberes. Foram oito encontros intensos que nos alimentaram para que prossigamos com o trabalho que iniciamos no Vera Cruz.”

Kátia Frazão, professora polivalente do Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Escola Vera Cruz

“Uma educação antirracista significa aprendizagens entre negros e brancos, troca de conhecimentos, num projeto conjunto em busca de uma sociedade mais justa, igual, equânime e digna. O primeiro passo para isso é reconhecer o racismo em mim e me posicionar como antirracista, ou seja, ter consciência política e histórica da diversidade reconhecendo que as relações raciais não são um problema só dos negros, mas também de como nós, brancos, nos implicamos nesse processo.”

Mário Zanca Neto, professor de Ciências Humanas dos Anos Finais do Ensino Fundamental da Escola Vera Cruz

Este curso possibilitou discutir e refletir sobre práticas que estão entranhadas em nossa sociedade e, principalmente, no ambiente escolar. A formação de um número cada vez maior de pessoas sobre as relações étnico-raciais vai contribuir para o desenvolvimento das práticas antirracistas. Ter esta experiência foi primordial para a apropriação desse repertório.”

Cristiane Aparecida da Silva Santos, pedagoga formada pelo Instituto Vera Cruz

“Em 2021, fui convidada a participar de um grupo para revisar o currículo da escola em que trabalho numa perspectiva antirracista. Confesso que, para uma discussão tão profunda e relevante, eu estava despreparada. Ao longo do curso, fui me aproximando da literatura, de como a comunidade negra no Brasil se articula e ainda fui me despertando para as maneiras de violência que exercemos, invisibilizando a luta dos pretos por justiça, reparação e reconhecimento em todas as esferas sociais.”

Bruna Teixeira, professora polivalente do Ensino Fundamental da Escola Móbile

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.