Editorial

Como nossos ancestrais, em roda

O simples ato de estar em roda pode ser uma potente ação antirracista. Isso se os membros da roda reconhecerem que ela é símbolo da circularidade, um importante valor civilizatório afro-brasileiro (tema de nossa reportagem de capa). Era em roda que muitos dos nossos ancestrais contavam histórias, ensinavam e aprendiam, discutiam a política do lugar em que viviam. Pensar na construção do projeto antirracista do Vera é pensar em roda.

Rodas como o grupo de leitura da Organização de Famílias da Escola Vera Cruz e o grupo Makota Valdina, formado pelos funcionários. Neles, as ações de letramento racial têm ganhado profundidade e autonomia, mostrando o compromisso de toda a comunidade escolar.

Não à toa, é uma roda que ilustra a capa desta edição da Zum-Zum. A foto de capa, escolhida por nossa editora de arte Kiki Millan, retrata o Quilombo Frechal, em Mirinzal-MA. Neste local, a Escola Vera Cruz junto com a Vaga Lume, entregaram uma biblioteca com recursos doados pela comunidade escolar. A entrega é parte de uma colaboração entre o Vera e a Ong que coloca em contato turmas do 6º ao 9º ano com jovens de comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas da Amazônia Legal brasileira.

As ações vividas no último semestre – e que continuam se estendendo já em 2024 – mostram o processo longo de amadurecimento do projeto antirracista do Vera. Uma parte importante desse amadurecimento é possível visualizar no minidocumentário A muitas mãos, que retrata a jornada vivida por educadores, crianças, famílias e funcionários das turmas do G5 ao 2º ano e que você pode assistir abaixo.

O ápice das reflexões sobre como esse projeto tem amadurecido se deu em roda também, no seminário realizado em parceria com o Centro de Formação da Vila e o ateliescola acaia, em novembro, em que as instituições puderam dialogar e trocar experiências. Esse momento, tão rico, contou com a participação da professora Petronilha Beatriz, relatora do parecer que regulamentou a Lei 10.639 (lei que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira). Desse potente momento de troca e construção conjunta, ficou a certeza de que criar um projeto antirracista é um desafio, afinal foram séculos de construção de um país profundamente marcado pelas divisões étnico-raciais. Contudo, combater o racismo através da educação é um desafio que não podemos deixar de enfrentar.

Esta edição da Zum-Zum também marca uma mudança na revista, com uma nova equipe assumindo a responsabilidade de contar as histórias do projeto antirracista do Vera. O jornalista Wellington Soares se torna o editor, trazendo consigo as repórteres Gabriely Araújo, Nairim Bernardo e Paula Peres. A nova equipe, formada exclusivamente por profissionais negras com um histórico na cobertura de educação e no movimento pela equidade racial na educação, assumiu o desafio de seguir com o excelente trabalho feito pelo editor Rodrigo Ratier e equipe nas quatro primeiras edições da revista. Sucesso ao novo time!

Comitê da Diversidade Racial da Escola Vera Cruz

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Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.