Editorial

Um sonho que se sonha junto

Há certos discursos que já nascem históricos. Foi assim com a fala inaugural de Sílvio Almeida, atual Ministro dos Direitos Humanos. Não ouviu? Pois leia, ouça, veja. Não se exagera ao comparar o discurso de Almeida – um parceiro de primeira hora do projeto de educação antirracista do Vera – ao “I have a dream” de Martin Luther King. 

Enumerou o professor as invisibilizadas minorias em direitos: trabalhadores e trabalhadoras, mulheres, povos indígenas, pessoas LGBTQIA+, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiência, idosos, anistiados e filhos de anistiados, vítimas de violência, vítimas da fome e da falta de moradia, pessoas que sofrem com a falta de acesso à saúde, empregadas domésticas, todos e todas que sofrem com a falta de transporte. Em seguida, sentenciou a frase lapidar: “vocês existem e são valiosos para nós.”

Há muito se diz que o grande problema do Brasil é a desigualdade. Há pouco a sociedade parece, enfim, ter acordado para o fato de que a desigualdade tem cor. Vivemos em um país estruturalmente racista, que não vai avançar enquanto não enfrentarmos essa verdade incômoda que vive em cada um de nós.

Neste ano, a escola Vera Cruz completa 60 anos. É motivo de imensa alegria chegarmos a essa marca, mas também uma enorme responsabilidade. Sabemos da importância do Vera para a educação de São Paulo e, sem falsa modéstia, do Brasil. Se o Vera segue sendo um farol tanto para a rede privada quanto para a pública, não temos dúvida que o segredo da relevância reside na postura inquieta, reflexiva e questionadora diante de tudo o que fazemos. O Vera se olha no espelho, e quando encontra algo que não parece bem, age para mudar.

Tem sido assim com nosso projeto de educação antirracista, compromisso a um só tempo tanto com uma escola melhor quanto com um país melhor. O antirracismo é um pacto civilizatório, algo que de fato pode fazer a diferença na construção de uma sociedade menos desigual. O antirracismo é central no projeto dos alunos que ambicionamos formar, dos educadores que desejamos ter, da comunidade que almejamos construir.

É por causa e por meio da postura questionadora que tudo no Vera está em transformação. Do currículo às práticas em sala, da formação de professores à capacitação dos funcionários, da contratação de profissionais negros e indígenas aos incentivos para maior diversidade no alunado, tudo está impregnado desse esforço coletivo para fazer melhor e diferente.

Chega 2023 e, com ele, o ano 3 de nosso projeto de educação antirracista. A revista Zum-Zum é parte desse processo de registro de nossas ações e do letramento racial de nossa comunidade. O cardápio deste primeiro semestre está variado e, arriscamos dizer, saboroso. Como tudo aqui no Vera, este conjunto de textos, áudios e vídeos fica melhor se for feito a muitas mãos. Junte-se a nós e comente, critique, debata, reflita. É uma revista e é um projeto pedagógico, mas também é um sonho, o mesmo de Luther King e de Sílvio Almeida: “Eu sonho com um futuro no qual nós já vencemos. Nós somos a vitória dos nossos ancestrais. Nós somos a vitória, também, daqueles que virão depois de nós.”

Comitê da Diversidade Racial da Escola Vera Cruz 

Uma resposta

Deixe um comentário para Theo e Bella Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.