Indígenas: povos originários – e também contemporâneos

Beatriz Calais

Qual a importância de estudar a diversidade dos povos indígenas no Brasil? Essa foi a pergunta que as professoras e coordenadoras responsáveis pelas classes do 3º ao 5º ano fizeram antes de decidirem parte das atividades curriculares de 2021. Por um lado, é evidente que os indígenas são povos originários essenciais para o aprendizado da identidade brasileira e da história nacional. Por outro, não se pode “congelar” esses povos no tempo. O questionamento a se fazer, na realidade, era outro: como falar sobre os povos indígenas sem fortalecer estereótipos? 

“Quando começamos a conversar com as crianças sobre os povos indígenas, eles – mesmo tão pequenos –, trazem conceitos estigmatizados”, afirma Wania Lopes, professora à frente do 3º ano. “Falar sobre a questão a partir do descobrimento do Brasil também estava fora de cogitação. Nossa ideia, então, foi trazer a contemporaneidade para o jogo.” 

Os povos indígenas são originários, mas também são contemporâneos. Nessa dualidade entre presente e passado, eles protagonizam a própria história. “Apresentamos o indígena músico, político, cientista e representante da literatura. Integrante de povos que têm a identidade preservada, mas vivem a atualidade. Isso gerou uma grande mudança na percepção das crianças”, explica Wania.

Para Débora Rana, coordenadora do 3o ao 5o ano, o nível 2, essa estratégia foi essencial para que a temática não fosse tratada apenas pelo prisma do primitivo. “Não nos interessa começar o trabalho com os indígenas a partir da descrição. O que eles comem? O que vestem? Onde moram? É uma descrição, mas é sem vida, por isso nós fazemos um diálogo com a contemporaneidade, para que os alunos entendam a complexidade da cultura. Eles estão aqui conosco, não estão apenas nos livros de história”, destaca. 

O foco do projeto foi o mesmo em todas as turmas do segmento, que logo começaram a exercitar a interpretação de texto e a escrita em produções relacionadas ao assunto. Em artigos de jornais e revistas, as professoras tentaram aproximar os alunos das histórias pessoais dos indígenas, mostrando depoimentos que despertaram empatia com as problemáticas que muitos povos enfrentam diariamente. Além da aproximação pelos relatos, o projeto também favoreceu o resgate histórico, fazendo com que os alunos buscassem a presença de indígenas em sua ancestralidade (buscando parentescos na árvore genealógica, por exemplo).


Literatura indígena

Se a ideia era tratar da cultura indígena a partir do contemporâneo e da atualidade, nada mais propício do que mergulhar na literatura. Ao longo do semestre, as professoras apresentaram os alunos a alguns autores, com foco em quatro deles: Daniel Munduruku, Tiago Hiakiy, Eliane Potiguara e Cristino Wapichana. “Foi uma forma de evidenciar que temos personalidades potentes atuando nos dias de hoje. Estudar esses autores ajuda a quebrar com o estigma da superioridade intelectual e racial dos brancos”, afirma Wania. 

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.