Heitor Castro e Francisco Balan
“Sem água, não há vida. Sem azul, não há verde. Sem o oceano, não existiremos”
–Sylvia Earle.
A pesca é uma prática que se modernizou ao longo dos séculos, tornando-se cada vez mais eficiente e atualmente a indústria pesqueira é a maior exportadora de carne no mundo. Tanto em cativeiro como em mar aberto, a indústria da pesca gera muito lucro, pois as espécies mais capturadas são encontradas abundância e em grandes cardumes.
Porém, a procura desenfreada por peixes, afeta cada vez, mais o desenvolvimento da vida marinha e a estabilidade dos ecossistemas. Não só a pesca, mas também a poluição que os navios pesqueiros produzem, a queima de combustíveis fósseis e as trilhas de lixo plástico, favorecem o aquecimento global, assim aumentando o nível e a temperatura do mar.

O IMPACTO DA PESCA DE ATUM
A pesca de atum é uma das práticas pesqueiras menos sustentáveis hoje em dia. O atum está sendo pescado antes da idade reprodutiva, enquanto ainda é pequeno, gerando um pequeno prejuízo para a indústria, e um enorme prejuízo para o ecossistema.

No documentário “Mission Blue”, Sylvia Earle traz informações essenciais para entendermos a gravidade da pesca do atum como vem sido feita. O atum, como predador, tem uma grande função na cadeia alimentar, controlar as populações de arenque, savelha e cavala. Sem os cardumes de atum essas espécies irão se reproduzir e desestabilizar o ecossistema, porém, o arenque, a savelha e a cavala são peixes que também são afetados pela pesca, pois sua carne nutritiva e saborosa é muitas vezes usada para vitaminas, óleos e até mesmo ração de frango.
A pesca em grande escala e sem precedentes do atum, savelha, cavala e arenque afetará um ecossistema de no mínimo dez predadores entre eles focas, golfinhos, salmões e algumas aves marinhas, além de no mínimo, 15 presas como zooplâncton, fitoplânctons, sardinhas e alguns pequenos moluscos.
Muitas pessoas, mesmo sabendo da origem do atum acabam comendo a carne usando a justificativa de que além de muito saboroso, ele é extremamente nutritivo e saudável. No entanto, o atum, assim como a cavala e principalmente tubarões e peixe–espada, contém uma considerável porcentagem de mercúrio em sua carne tornando o consumo em excesso muito prejudicial saúde.
A CAÇA E A REDUÇÃO DA POPULAÇÃO DE BALEIAS
Uma das pescas em grande escala mais famosas foi em relação as baleias, por volta dos anos 1600 até aproximadamente 1900. O óleo, usado como combustível para lampiões, era o foco das caçadas, além do vômito que seria utilizado para a produção de perfumes. Os caçadores viajavam centenas de quilômetros para matar um animal que tinha de 20 até 300 toneladas. Nesse processo, a maioria das baleias eram descartadas após a coleta do óleo da gordura e do vômito, que podiam ser substituídos por outros produtos tão bons quanto.
O destino da caça às baleias foi um precursor para os acontecimentos de hoje em dia, pois elas não só controlavam as populações de krill, mas também suas fezes continham papel fundamental no desenvolvimento de algas graças aos seus níveis altos de ferro. Atualmente, a população de baleias azuis foi reduzida para aproximadamente 4 mil indivíduos, baleias jubartes consistem em um total de 25 mil, de acordo com a Revista Superinteressante.

O consumo de carne de baleias é ilegal no Brasil, porém as pessoas se mantêm ignorantes. Uma notícia nos conta que uma baleia jubarte foi encontrada na praia de Coutos em Salvador, Bahia, os morados decidiram que enquanto a Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb) não removesse o cadáver do animal, eles cortariam a carne do cetáceo com a intenção de usá-la como alimento.
As baleias normalmente encalham por causa de doenças que são causadas por drásticas mudanças no ecossistema. Trazem consigo o aumento da temperatura corporal, isso leva a sua pele e carne escurecerem e também a desidratação, isso desorienta as baleias e causa o encalhamento. Mas as baleias não morrem, elas sufocam por causa da pressão que seu corpo exerce sobre seu pulmão, por isso que se você encontrar uma baleia, chame ajuda pois ela pode ainda estar viva.
A CRUELDADE NA PESCA DO TUBARÃO
‘’Tubarão: O tigre dos mares. De todos os terrores do mar o tubarão é o pior’’
Infelizmente muitas pessoas pensam e agem ironicamente como na frase acima. Porém, nós não fazemos parte do cardápio dos tubarões, enquanto atualmente eles estão no nosso. O Brasil e a China são os maiores consumidores de carne de tubarão. Aqui no Brasil, a carne é comercializada muitas vezes como “cação”, e desse modo, muitas pessoas desinformadas acabam consumindo a carne sem saber a sua origem. Segundo a bióloga Sofia Aranha, enquanto 100 milhões de tubarões são mortos todos os anos, apenas 9 dos 15 ataques anuais resultam em morte.
O documentário ‘’Mission Blue’’ nos traz muitos dados e informações extremamente importantes e chocantes. Em 2014, as reservas naturais de tubarões totalizavam em apenas 10%, atualmente a porcentagem não mudou muito, mas ainda não mostram um resultado positivo.

A pesca de tubarão está entre uma das práticas mais cruéis de consumo de carne, pois depois de terem suas barbatanas traseiras, laterais e superiores brutalmente cortadas o animal ainda vivo é jogado de volta no mar podendo morrer de hemorragia e asfixia. Tudo isso para apenas as pessoas terem o luxo de tomar sopa de barbatana de tubarão.
ESTURJÃO
O esturjão é um peixe que como espécie viveu por mais de 250 milhões de anos, mas hoje em dia é um dos animais em maior risco de extinção, isso porque é deles que vem o caviar. O caviar é uma das comidas mais caras do mundo podendo chegar em 15 mil reais. Mas porque é tão caro?
Existem 4 tipos de caviar: Almas, Beluga, Oscietra e Sévruga. O caviar vendido pelo maior preço é o do esturjão-albino vendido por 100 mil reais.
O caviar é tão caro porque eles são os óvulos não fecundados do esturjão, ou seja, é preciso cortar as fêmeas para colhê-los. Outro motivo seria o aquecimento global, como muitas espécies, o esturjão é muito sensível à temperatura, uma pequena mudança pode causar doenças ou outros problemas sérios.
Caviar se tornou um produto muito caro nos dias de hoje somente, antigamente ele era jogado fora ou dado de graça em bares pois seu gosto salgado incentivaria os clientes a pedirem mais bebidas.
O oceano é um lugar altamente vulnerável, porém a vida oceânica não suporta essas mudanças provocadas pelos homens. Com o aquecimento global, a poluição, o aumento da temperatura do mar e o aumento no consumo do peixe ocorrem muitas alterações no habitat marinho que são constantes e de modo irregular. A fauna e flora não acompanham esse ritmo de transformações provocadas pela ação antrópica.
A raça humana está à beira de extinguir uma boa parte da vida marinha se a busca pela indústria pesqueira não for controlada e continuar nos níveis extremos dos tempos de hoje. A carne marinha pode facilmente ser substituída por outros produtos, por exemplo, o ômega 3 com origem vegetal, já que são as algas que produzem os óleos ômegas.

O bacalhau Terra Nova é um ótimo exemplo de como as populações de peixes estão totalmente irregulares, o maior pico populacional aconteceu em 1965 com um aumento de 500 mil indivíduos em relação ao último pico, mas em 25 anos a população quase foi extinta. Nos anos 2000 com muito esforço o bacalhau da terra nova conseguiu se recuperar, contudo não ao ponto de passar da média de 100 mil indivíduos, que foi mantida durante no mínimo 130 anos.
Temos que mudar nosso meio de vida e nos adaptar a formas mais ecológicas de interagir com o planeta. Só assim poderemos reverter e manter os ecossistemas em ordem.
Referências
Caça as baleias (acesso em 26/11/2020)
https://www.mural.unisul.br/pesca-e-preservacao-baleias/
Documentário Mission Blue (acessado em 10/11/2020
Estatísticas da FAO (retirado de wikimidia.org em 16/11/2020)
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/54/Surexploitation_morue_surp
Foto dos atuns no mercado de Tiskiji (retirado de wikimedia em 11/11/2020)
Gráfico bacalhau da terra nova (retirado de wikimidia em 16/11/2020)
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/54/Surexploitation_morue_surp%C3%AAcheEn.jpg
Gráfico da exportação em 2016 (acesso em 26/11/2020)
http://www.afedmag.com/english/NewsDetails.aspx?id=8622
Imagem das barbatanas de tubarão (retirado em 26/11/2020)
Site do G1
Texto sobre regras da pesca 2016 (acesso em 19/11/2020)