No Projeto de Vida e Convivência Ética, o protagonismo dos debates étnico-raciais no Ensino Médio

Por Maria Laura Saraiva

A adolescência é conhecida como um período de amadurecimento de identidades, visões de mundo e perspectivas a partir do contato com o outro. É também uma fase de grandes mudanças que ensejam incertezas na vida dos estudantes, fazendo da escola um espaço necessário de acolhimento, diálogo e contato com a diversidade.

Nesse sentido, o Vera propõe o Projeto de Vida e Convivência Ética (PVCE) como instrumento para estimular o autoconhecimento e o debate crítico por parte dos alunos. Ao longo das três séries, por meio de aulas semanais, os jovens são acompanhados por professores, psicólogos escolares e, ocasionalmente, convidados externos. 

Nessas aulas, a turma é convidada a expor suas incertezas e aspirações – pessoais e coletivas – para discussão e reflexão. Entre os temas que costumam pautar a conversa estão as problemáticas étnico-raciais e as estratégias de mobilização antirracista, dentro ou fora da escola. 

Com o apoio de textos, vídeos e obras artísticas de autores como Silvio Almeida, Cida Bento, Sueli Carneiro, Denise Carreira e Djamila Ribeiro, o projeto promove discussões sobre conceitos como branquitude, negritude, racismo e letramento racial. Um exemplo do 3º ano foi a produção, na aula de redação, de vídeos no formato ‘TED Talks’ sobre o tema “Por que precisamos ser antirracistas”.


Da escola para o mundo, o Ensino Médio como ponte para a diversidade

Desde a implementação do projeto, as conversas diárias sinalizam um bom envolvimento dos alunos com as discussões e estudos propostos. Como resultado, vemos um ambiente cada vez mais atravessado pela perspectiva antirracista. “Tornou-se mais comum o exercício de observar, ouvir e criticar atitudes racistas. Nas aulas do currículo ou em outras atividades obrigatórias, busca-se garantir que todos os alunos se envolvam em algum grau”, diz a psicóloga Maria Teresa Mendes de Oliveira Lima. 

Os professores orientadores das turmas também são incentivados a promover momentos de conversas sempre que surgirem demandas ou eventos significativos na convivência escolar.  E também uma avaliação permanente das ações do projeto de educação antirracista.

Entre os aspectos bem avaliados estão as próprias reflexões coletivas propostas no PVCE; a inserção da temática antirracista nas aulas; o uso do fórum de debates como oportunidade de aprendizagens e trocas; e a percepção da escola como um espaço informativo relevante para reflexões.

Por outro lado, segundo os estudantes, fatores como a inclusão de alunos negros no Ensino Médio, assim como já ocorre na Educação Infantil, ainda precisam de atenção, bem como a continuidade da contratação de professores não brancos. 

Na visão da aluna Marina Meirelles Ferreira Peccin, do 3º ano, grande parte dos alunos estão engajados na pauta antirracista proposta no currículo do Vera Cruz. “O PVCE é um dos responsáveis por isso, pois nos estimula a observarem mudanças em nossas atitudes e no que ocorre em toda a escola”, explica a estudante.

“Sabemos que há muito mais por sustentar na escola para seguirmos avançando com a missão bem colocada por Grada Kilomba: o branco de hoje não é mais o responsável pela escravidão, mas ele tem a responsabilidade de equilibrar a sociedade em que vive”, finaliza a psicóloga Simone Fernandes.

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.