Gabriela Del Carmen
No último semestre, os estudantes do curso de Pedagogia do Instituto Vera Cruz vivenciaram a temática antirracista em diversas disciplinas, com atividades dentro e fora da instituição. Uma das mais concorridas foi a visita guiada ao Museu Afro Brasil, cujo acervo conta com mais de oito mil obras das culturas africanas e afro-brasileiras, elaboradas desde o século 16 até os dias atuais. A atividade compõe o plano de ensino da disciplina História da Educação e Direitos da Criança, do módulo Infância, no primeiro semestre da graduação.
“Como nascem e como são perpetuados os lugares de memória”, afirma a professora Cristina Figueira. “Os estudantes perceberam a potência da cultura negra e afro-brasileira. O diálogo se amplia a cada pavimento, firmando-se nas construções de identidades e ancestralidades.” Desde 2014, as aulas no Museu Afro Brasil contam com a monitoria do professor Luiz Fernando Costa de Lourdes.
Para aprofundar os estudos, a turma leu o livro Olhos d’água, da escritora mineira Conceição Evaristo. A obra retrata as duras condições enfrentadas pela população afro-brasileira, com um olhar especial para as mulheres, passando por temas como pobreza e violência urbana. Segundo Cristina, a atividade permitiu que os estudantes refletissem sobre suas próprias ancestralidades. “Os estimulou a perceber a importância e responsabilidade do professor. A compreender, pesquisar e aprender como participar e contribuir para uma educação antirracista e intercultural”, explica a professora.
Em março, os estudantes de Pedagogia participaram da live de lançamento da Edição 1 da Revista Zum-Zum, aprofundando as reflexões sobre os privilégios da branquitude. O encontro virtual contou com a participação de Lia Vainer Schucman, autora de Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo, além de Famílias inter-raciais: tensões entre cor e amor.
Na disciplina Escola e Currículo, que integra o módulo Território Educativo, os alunos do 4o ano do curso de Pedagogia visitaram a exposição Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo. A professora Lilian Starobinas descreve a experiência como uma grande oportunidade de questionar o preço da invisibilidade das pessoas negras ao longo da história e de valorizar suas contribuições para a produção cultural do país.
Além de um maior contato com a vida e obra de Carolina, a visita tinha o objetivo de estimular reflexões sobre o espaço oferecido nos currículos escolares a pessoas negras e suas produções – meta atingida com sucesso. Ana Paula de Oliveira, uma das alunas do curso de Pedagogia que visitou a exposição, conta que a atividade trouxe a ela uma melhor compreensão do país.
“Apesar dela ter vivido em outra época, suas obras e escritos têm um papel fortíssimo para a história da população negra brasileira”, avalia Ana. Ela acrescenta que as aulas no Instituto Vera Cruz mostraram a importância de elaborar um currículo abrangente e representativo para os alunos. “Maria Carolina de Jesus foi uma mulher negra, artista, símbolo de resistência e de luta política e cultural. Um currículo escolar que aborde esses requisitos traz uma bagagem muito vasta para seus estudantes”, afirma.
As turmas do Instituto leram as obras Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, de bell hooks, e Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula, de Luana Tolentino. “Nosso objetivo foi discutir o lugar da escola na reprodução do racismo e a percepção dos processos escolares que estruturam sua permanência. Nos inspiramos para a inclusão de autores, temas, projetos e posicionamentos possíveis e desejáveis no cotidiano escolar”, conclui a professora Lilian.