A mensagem de esperança da jovem poeta que mexeu com a turma

Maria Laura Saraiva

Em janeiro de 2021, a posse do presidente norte-americano Joe Biden apresentou ao mundo um fato de enorme simbolismo: a eleição de sua companheira de chapa Kamala Harris, que se tornava a primeira vice-presidente negra do país. Mas uma outra personagem, muito menos badalada, chamou a atenção de todos naquela cerimônia: Amanda Gorman, a jovem poetisa escolhida para apresentar o poema ocasional “The hill we climb” (“A colina que escalamos”, em tradução livre).

Com apenas 22 anos e formada em sociologia em Harvard, a escritora foi tema de uma atividade desenvolvida na disciplina de língua inglesa pelos alunos da 1a série do Ensino Médio. Sob orientação da professora Solange Maria dos Santos, a turma teve contato tanto com o texto, em seu formato e idioma original, como com a vida da artista, que ganhou notoriedade após a apresentação.

“Parte do encanto é ver uma menina tão nova, mas com tanto a dizer. Logo que demos início aos estudos, eu consegui testemunhar na sala o brilho nos olhos e a atenção dos alunos para a mensagem”, explica a professora. Dividida em três etapas, a tarefa já teve duas fases concluídas: a análise de texto e a contemplação da biografia de Amanda Gorman.

À diferença de muitos poemas tradicionais, a poesia da jovem norte-americana não é marcada por rimas ou estrofes. Escrito após a invasão ao Capitólio por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, o texto ganha vida ao descrever com força e precisão a divisão que tomou conta dos Estados Unidos após o ataque. “Quando chega o dia, nos perguntamos / onde podemos encontrar luz nesta sombra sem fim?”, questiona Amanda no início do poema.

Para o aluno Túlio Muniz Pinto de Carvalho Genoveza de Souza, outra mensagem que sobressai é a esperança por dias melhores. “Ela traz a ideia de como podemos superar as dificuldades que vêm acontecendo, desde a pandemia da covid-19 até a xenofobia e atos de violência”, explica. Seu trecho preferido é aquele em que a jovem questiona: “Como será possível a catástrofe prevalecer sobre nós?”.

O estudante destaca, ainda, o conteúdo crítico do texto diante de episódios como o assassinato de George Floyd, em 2020, e os relaciona com os abusos policiais cometidos no Brasil, principalmente em periferias. “É preciso uma pauta antirracista muito forte para reverter esse preconceito estrutural”, afirma.

Para a professora Solange, um dos pontos fortes do texto é convidar o leitor a sentir o desconforto de quem faz parte de uma minoria marginalizada. “A colina é uma alusão à falta de liberdade da população negra norte-americana”, destaca a professora. “Ela deixa claro que não se trata de uma caminhada confortável – é uma escalada, uma luta constante”, completa.

Quanto à representatividade, Solange afirma que é importante trazer exemplos de novos artistas negros, ampliando o leque de referências dos estudantes para além de figuras tradicionalmente estudadas, como no caso de Machado de Assis ou de Maya Angelou, por exemplo. “Amanda se tornou mais próxima da turma tanto pela linguagem jovial como pela possibilidade de enviar uma mensagem em seu Instagram”, diz.

Essa ponte, explica a professora, acaba facilitando a empatia com as dores e narrativas que rondam a realidade da população negra, não apenas nos Estados Unidos, mas no Brasil e em todo o mundo. “A autora traz um retrato muito forte do que esse grupo ouve, sente e sofre, bem como quais são as suas reivindicações. Para os alunos, é uma forma muito efetiva e real de ter contato com o tema”, afirma.

O próximo desafio da turma da 1a série será elaborar, de forma individual, um audiopoema ocasional. A expectativa é que a classe exponha suas próprias reflexões em relação aos dilemas da sociedade que a cerca. Para ver o que os alunos prepararam na primeira etapa do trabalho, clique aqui.

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.