A leitura que amplia horizontes na primeira infância

Gabriela Del Carmen

“Eu amo livros, e nessa atividade a gente nunca para de pegar livros novos!”. É assim que Julia Battaini, de quatro anos, descreve sua experiência com a biblioteca circulante, projeto de educação antirracista do Vera Cruz criado especialmente para os alunos do G4. 

A proposta era fazer um rodízio de livros. O jeitão é conhecido: a cada semana, as crianças escolhiam uma obra para levar para casa, faziam a leitura com a família e, depois, devolviam o exemplar para a sala de aula. A família e os alunos eram, então, convidados a fazer um relato dos sentimentos e das reflexões geradas durante a leitura, compartilhar na sala de aula e trocar o livro com os colegas para que o ciclo seguisse adiante.

O trabalho partiu de uma curadoria cuidadosa na escolha dos livros, optando por obras com personagens, autores ou ilustradores negros. “Com o intuito de que mais histórias pudessem ser contadas e mais vozes escutadas, desejávamos desde o início que os livros escolhidos abrissem espaços de conversa e invenção”, explica Silvia Macul, orientadora da Educação Infantil do Vera e uma das idealizadoras da atividade. “A intenção era valorizar a identidade, história e cultura dos povos que formam nossa sociedade multiétnica e multirracial.”

As professoras fizeram uma leitura coletiva das obras na sala de aula, incentivando as crianças a conversar sobre cada uma delas em roda. “Falavam sobre suas impressões, levantavam dúvidas e indicavam para os amigos”, lembra Silvia. Segundo a orientadora, levar os livros para casa era importante para que os alunos e seus familiares pudessem conhecer e aproveitar ao máximo a coletânea. “Queríamos aumentar o repertório de boas histórias e ter essas imagens espalhadas pelas casas.”

Um dos livros preferidos de Julia foi Meia curta, de Andreza Félix. Como descrito pela própria autora, trata-se de “uma história sobre uma garotinha que não tem problemas com o espelho, gosta de vestir-se para si mesma e de brincar com seu cabelo crespo experimentando penteados. Um convite para a autoestima.” Julia também menciona o Bola vermelha, de Vanina Starkoff, O jabuti não tá nem aí, de Itamar Assumpção, e Amoras, de Emicida.

Títulos como Nós de Axé (Janaína de Figueiredo), para conhecer a Bahia e a cultura afro-brasileira, e Ombela: a origem das chuvas (Ondjaki), inspirado na mitologia africana, também fizeram parte da coletânea. “Achamos a Ombela linda, ficamos escolhendo qual das imagens dela era nossa favorita e optamos por várias (quase todas!). Laura disse que este livro foi muito legal e bom de dormir”, conta Camila Maringoni, mãe de Laura, também aluna do G4.

Para a orientadora da turma, o contato com obras literárias de autoras e autores negros constitui uma forma de romper com estereótipos construídos historicamente. “Os livros tratam de aspectos variados da humanidade: o dia a dia de uma família, desejos, conflitos, mitologia africana, culinária e vestimentas, por exemplo”, pontua Silvia, acrescentando que a escolha foi feita levando em consideração a idade das crianças.

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.