Editorial

Mais que um tema, uma lei e uma luta

Não.

A educação antirracista não é um tema. Não é um tópico de sala de aula, nem mesmo uma disciplina. Não é algo a que se adere porque “o mercado exige”, porque outras escolas agora a oferecem como um item a mais para atrair matrículas. Nada disso sequer bordeia o real significado da educação antirracista.

A educação para as relações étnico-raciais é uma lei, que em 2023 faz 20 anos e determina que as escolas ensinem sobre história e cultura afro-brasileira. O Vera, que se vê como parte da educação pública – afinal, todo ensino privado é uma concessão do Estado –, tem a obrigação de respeitar essa lei. A educação antirracista também é fruto de uma luta secular. Tem níveis de complexidade que não se esgotam no olhar para o passado. Ao contrário: ao ousar chamar as coisas pelo nome, pode dar a impressão de que o presente piorou:

– Hoje temos mais ocorrências de racismo do que antes do projeto. Estamos andando para trás!

É uma falsa conclusão. Há mais ocorrências porque a educação visibilizou situações que antes estavam silenciadas. O racismo não era percebido como tal. Foi preciso criar uma lente capaz de identificar as situações de racismo para poder qualificar as ações de enfrentamento. Educação antirracista é viver em reflexão, reconhecer privilégios, entender a atualizade da herança escravocrata, perceber-se desconfortável e inadequado, discutir coletivamente ações reparatórias, alterar condutas. 

Em poucas palavras: educação para as relações étnico-raciais é coragem para abraçar o desassossego. A recompensa, sempre no horizonte à espera da próxima ação necessária, é uma sociedade com menos desigualdade.

O Vera foi pioneiro em trazer esse desequilíbrio cognitivo e atitudinal para o coração de seu projeto político pedagógico. Dois anos e meio se passaram, e a complexidade de nosso projeto de educação antirracista já deixa marcas visíveis no currículo e no cotidiano escolar; no letramento e sensibilização da comunidade; na formação inicial e continuada de professores para uma educação antirracista; na formação permanente de profissionais da escola; na ampliação de presença negra e indígena, via programa de bolsas e políticas afirmativas de contratação de profissionais; na articulação com escolas e outros grupos. A revista eletrônica que você lê agora é um registro desse intrincado projeto.

Um projeto que tem a cara do Vera, que neste ano completa seu 60o aniversário. Nossa perspectiva não poderia ser a assistencialista (inclui-se os diferentes e desiguais e espera-se que sejam gratos pela oportunidade). Também não é a inclusiva (que reconhece as diferenças, pensa nas condições de permanência mas pouco avança a partir daí). 

Como nas últimas seis décadas, corremos o risco permanente de enfrentar o desafio de educar em prol de um processo transformativo. Por isso estamos revendo todos os nossos processos e relações. Para que os diferentes e desiguais que aqui chegaram possam ser vistos como sujeitos de conhecimentos, cultura, estéticas e dignidade. O depoimento de Elisângela Evangelista da Silva, mãe da Maria Manuela, do 2o ano, que chegou ao Vera pelo projeto de educação antirracistas e que agora se despede por estar mudando de país, dá uma dimensão do desafio e das conquistas alcançadas:

Aprender com quem chega e com quem parte é o que tem sido a beleza desse projeto. A bem da verdade, sempre foi. Com a educação antirracista, o Vera se renova e segue sendo o que sempre foi: uma referência na luta para a educação que ousa se repensar para transformar a sociedade.

Comitê da Diversidade Racial da Escola Vera Cruz

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Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.