Editorial

Onde encontrar esperança

Diante dos desafios políticos, sociais e ambientais que vivemos hoje, não é difícil nos tornarmos pessimistas. As notícias mostram que a devastação climática segue avançando a passos largos, e muitas das consequências da mudança do clima já são irreversíveis. Mas, como educadores e cidadãos preocupados com o mundo que construímos para as próximas gerações, não podemos deixar de – como Paulo Freire defendia – esperançar.

Freire defendia uma esperança que motivasse os indivíduos a agir, uma esperança que fosse o combustível da mudança. “Precisamos da esperança crítica, como o peixe necessita de água despoluída”, ele disse. Aqui no Vera, uma das fontes dessa esperança é a educação para as relações étnico-raciais. Com ela, aprendemos que, para combater a catástrofe climática, precisamos dar ouvidos aos povos que foram subjugados e compreender suas relações com o meio ambiente. Precisamos de disposição para aprender, com eles, sobre suas histórias, suas culturas e seus saberes milenares.

Nas edições anteriores da revista Zum-Zum, apresentamos como nosso projeto de educação para as relações étnico-raciais tem se construído, sobretudo como a história e cultura africana e afro-brasileira têm nos guiado. Nesta edição, decidimos dar destaque a como os saberes dos povos originários também estão presentes nas nossas ações.

Construir diálogos com esses grupos é importante por si só. Já há anos, temos repensado no currículo para eliminar visões estereotipadas, incorretas e injustas sobre esses povos, e para incluir os saberes de povos originários de maneira transversal, adicionando seus saberes a respeito de Ciência, História, Literatura, Arte e de todos os demais campos do conhecimento.

Mas a emergência climática torna ainda mais inevitável que busquemos, neles, uma alternativa à maneira como temos nos relacionado com o ambiente e com a natureza. É preciso que nos tornemos selvagens, como diria Jerá Guarani, liderança indígena que tem nos proporcionado inspiração e conhecimento, afinal “todas as coisas ruins que estão acontecendo no planeta Terra vêm de pessoas civilizadas, pessoas que não são, teoricamente, selvagens.” (Você poderá ouvir mais sobre seus ensinamentos nesta edição do nosso podcast Zum-Zum no Vera.)

Dialogar com as diversas culturas dos povos originários tem gerado o difícil exercício de deixar de lado os padrões pelos quais enxergamos o mundo e experimentar uma visão completamente diferente. Uma visão em que o ser humano é parte da natureza, e não apenas explora seus recursos, uma visão em que a harmonia com o ambiente é o ponto de partida para a existência, uma visão que enxerga um futuro possível, mesmo com todos os desafios que já estão postos. Reaprender a ver o mundo e construir novos padrões de relacionamento com ele é um exercício tão desafiador quanto necessário: rever nossa concepção de civilização e nossos hábitos de vida nos parece a melhor maneira de esperançar, como diria nosso mestre Paulo Freire.

Conselho Editorial da revista Zum-Zum

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.