Com apoio da cultura hip-hop, estudantes da 1ª série do EM desenvolveram suas habilidades orais no Inglês
Reportagem: Nairim Bernardo
Um dos objetivos centrais da equipe de Inglês é desenvolver a oralidade dos alunos na língua através de temas relevantes para as diferentes faixas etárias. Na 1ª série do Ensino Médio, diferentes projetos já foram feitos para isso, e desde 2024, professores e alunos mergulham na cultura hip-hop para ampliar suas referências culturais e ampliar seu repertório linguístico e fluência.
“Percebemos que os alunos conheciam o hip-hop apenas como gênero musical contemporâneo, não como movimento histórico de resistência racial e social. Com esse grande tema, conseguimos apresentar vozes historicamente marginalizadas, a importância da expressão pessoal e dos movimentos de luta por justiça”, explica Andréa Calvozo, orientadora de Inglês do Ensino Médio.
Para iniciar, foi apresentado aos alunos a spoken word poetry (poesia falada), uma expressão artística literária em que poemas são recitados em voz alta, valorizando a performance e a interação com o público. Essa forma de arte mistura poesia com elementos cênicos e geralmente aborda questões sociais e políticas. A partir dos exemplos e da contextualização, os estudantes foram convidados a refletir sobre diferentes elementos que compõem a grande cultura que é o hip-hop.
O movimento surgiu no início da década de 1970 em Nova York (EUA) nos bairros do Bronx e de Harlem como resposta ao que as comunidades afro-americanas, latinas e caribenhas enfrentavam naquele período: a desigualdade econômica e política desenfreada denunciada pelo movimento dos direitos civis dos anos 1960. O movimento se estabeleceu em quatro diferentes formas de expressão: a discotecagem feita pelos DJs, o rap comandado pelos MCs (mestres de cerimônia), o grafite e o breakdance.
Como o projeto também busca desenvolver a autonomia dos alunos, eles são organizados em grupos de trabalho, responsáveis por sugerirem o que querem pesquisar dentro desse grande tema. Além das quatro formas de expressão, também pesquisaram sobre seu histórico, sua presença no mundo e o papel das mulheres no movimento.
Os professores mediaram as pesquisas e propuseram reflexões para que os alunos sempre reconhecessem o protagonismo negro dentro da temática. Segundo a professora de Inglês Lúcia Zmekhol, em um primeiro momento, muitos trouxeram cantores brancos como referência, o que a levou a uma conversa sobre o que é ou não apropriação, plágio e a revisitar com eles a origem do rap.
Outra questão importante que foi abordada em sala gira em torno dos estereótipos racistas. “Uma dupla de alunos decidiu fazer a pesquisa sobre a rivalidade entre os cantores estadunidenses Tupac e The Notorious B.I.G. “Quando eu li o script do trabalho que eles apresentariam, vi uma série de estereótipos. Conversamos muito sobre isso e sobre como a mídia trata os artistas do gênero. Eles amadureceram o projeto e o que era para ser uma cena da briga foi transformado em um relato em forma de poema e dança”, conta a professora.
“Como trabalhamos muito com a origem do hip-hop, os alunos são expostos a muitos materiais desenvolvidos por e sobre pessoas negras. Como um projeto é um processo, eles não começam entendendo tudo sobre resistência, expressão pessoal e cultural, mudança de classe. A mudança da pobreza para a riqueza é um tema muito trabalhado no rap, mas no início os estudantes têm dificuldade de entender porque acabam olhando tudo com as lentes da própria realidade racial e social. Precisamos puxar reflexões sobre isso para que eles entendam outras realidades e culturas”, diz Lúcia.
Produção final: rimas, ritmo e oralidade
Após a etapa de pesquisa, as duplas foram orientadas a escrever um roteiro sobre sua produção final, que deveria ter o formato de vídeo com áudio ou podcast com duração de 3 a 5 minutos. Cada dupla pôde escolher como apresentaria suas descobertas: explanação oral da pesquisa ou formatos mais artísticos, como cena dramática, poema ou rap.
Os alunos são incentivados a transformar o roteiro que eles escreveram em uma apresentação oral fluida e natural. Para isso, os alunos precisam pensar como gestos, ritmo, entonação e outros aspectos corporais também apoiam a comunicação.
Em 2024, quando os trabalhos ficaram prontos, foram reunidos em um Padlet. Em sala, os estudantes tiveram acesso a todas as produções, inclusive de outras turmas, e escolheram a quais queriam assistir. Com a mediação dos professores, conversaram e analisaram o que era visto.
“Para mim, o mais legal é o deslocamento reflexivo pelo qual eles passaram. No começo, eles viam os elementos do hip-hop com um olhar mais ingênuo e em alguns casos estereotipado. Ao longo de um trabalho de meses, vão entendendo o hip-hop realmente como uma cultura ampla: música, moda, grafite, poesia, slams, luta social”, finaliza a professora.
Para saber mais
Vídeo | Rap and hip hop: crash course black american history #47.
Documentário | Ladies first: a story of women in hip-hop, disponível na Netflix.
Site | Exposição The culture: hip hop and contemporary art in the 21st century, do Saint Louis Art Museum.