Por Gabriely Araújo
Fomentar a cultura, o esporte e a expressão do corpo. Esses são alguns dos objetivos do FestiVera (Festival Esportivo e Cultural da Escola Vera Cruz), que há 24 anos promove atividades de dança, esportes e capoeira com alunos das três séries do Ensino Médio.
O Festival hoje se divide em FestiVera Esportes, com campeonatos internos de diversas modalidades, o FestiVera Dança e FestiVera Capoeira, organizado pelo Mestre Zelão, professor de capoeira de angola do Vera. “O carro-chefe é a capoeira de angola, uma prática afrodiaspórica, e todas as atividades que compõem o FestiVera estão em diálogo com ela. Esse trajeto é possível por ser a capoeira uma prática que dialoga com outras disciplinas”, conta Zelão. Em 2023, como parte das comemorações de 60 anos do Vera, o FestiVera Capoeira se aproximou cada vez mais das tradições afrodiaspóricas, unindo a capoeira com outras manifestações afro-brasileiras e periféricas, que foram trabalhadas ao longo do ano em diversas disciplinas, como Arte, Literatura, Projetos e Dança.
Entre as ações trabalhadas ao longo do ano, estiveram a produção de lambe-lambes, o slam, produção de grafismos adinkra, uma visita ao Sarau da Cooperifa, além da própria capoeira.
O desenvolvimento do FestiVera Capoeira começa meses antes do evento, em atividades em sala de aula com educadores de diversas disciplinas e áreas de conhecimento. Um dos focos desse estudo é promover o contato das turmas com mestres e mestras de capoeira de angola, além de profissionais que trabalham com outras linguagens afro. As atividades são desenvolvidas muitas vezes em roda, caraterística da capoeira e que traduz a circularidade, valor civilizatório afro-brasileiro. “Esse mosaico de diversidade acontece com a contribuição dos alunos, professores e coordenação. Temos trazido representantes da capoeira, do samba de roda, da congada e outros”, conta Mestre Zelão.
Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer os grafismos adinkra, símbolos adinkras criados pelo povo Ashanti, localizados principalmente nos países Gana, Burkina Faso e Togo, e que hoje estão presentes por todo o planeta. Geralmente estampados ou carimbados em tecidos, os símbolos remetem a valores tradicionais desse povo. Usando técnicas de estêncil, com a professora Natalia Tonda, a turma elaborou murais que representassem a relação entre presente e passado na cultura negra de São Paulo. Os painéis que resultaram do trabalho foram o cenário do FestiVera.
Outra atividade desenvolvida em 2023 foi uma pintura em movimento, a partir dos movimentos da capoeira. Assim, os participantes da roda faziam movimentos que foram registrados em papel a partir das tintas que caíam de um balão amarrado ao tornozelo de cada jogador. Os sacos tinham diferentes cores representativas da capoeira, e eram furados em diferentes espessuras para gerar fluxos de tintas diferentes. O produto final representou a poética do movimento da experiência vivida.
Também houve uma oficina de lambe-lambe, com a meta de estabelecer um diálogo entre a arte urbana, a estética periférica e o discurso de contestação social. Após a reflexão sobre temas e estéticas que compõem o espaço urbano (a partir de imagens e vídeos), houve um momento de criação literária, com temas e motes já estabelecidos. Em seguida, os estudantes, com apoio dos professores, selecionaram pequenos trechos que dialogam com a estética do lambe-lambe e, por fim, foram produzidos os cartazes que foram colados em um espaço disponibilizado pela Escola.
Para a professora Vany Amorim, de literatura, a experiência do FestiVera Capoeira pode “estabelecer relações entre os saberes, construir essas pontes com os estudantes, mostrando que as barreiras e fronteiras entre áreas são abstrações, não existem na prática cotidiana”. Com ela, estudantes da 2ª e da 3ª série fizeram uma visita opcional ao Sarau da Cooperifa, na qual eles puderam ver práticas poéticas e de slam. Depois, na Escola e durante o festival, os alunos fizeram as suas próprias produções poéticas e declamaram entre uma atividade e outra da capoeira.