A importância da formação de professores para implementação de uma educação antirracista

Silvane Silva

A Resolução n.1, de 2004, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais, completou 21 anos. Este importante documento indica a formação de professores como um passo importante para a implementação de uma educação antirracista. Em seu primeiro artigo, aponta que as instituições de Ensino Superior devem incluir, nos conteúdos das disciplinas, atividades curriculares sobre educação das relações étnico-raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas sobre a população negra. No artigo terceiro, há também  a indicação de que as coordenações pedagógicas devem promover o aprofundamento de estudos abrangendo os diferentes componentes curriculares.

Os momentos formativos são importantes para que os profissionais se apropriem da produção de autores negros e negras e indígenas, que tem se expandido cada vez mais. Conhecer e se apropriar dessa produção amplia nossas cosmovisões e nos possibilitam abordar os conteúdos de forma menos superficial e recortada, construindo aprendizagens significativas para os estudantes.

No livro O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação, a professora Nilma Lino Gomes demonstra de maneira contundente o quanto as lutas do movimento social geraram conhecimento novo, que não apenas as alimentou, mas também constituiu novos atores políticos e contribuiu para o enriquecimento dos saberes da sociedade em geral. Se observarmos com atenção, perceberemos a mudança no léxico, nos conceitos e até mesmo novas linhas de pesquisas que foram e são impulsionadas pelas sistematização das ideias produzidas pela luta social.

Daniel Munduruku, em 2012, também apresentou uma reflexão parecida referente ao movimento social indígena. Em O caráter educativo do movimento indígena (1970-1990), o autor apresenta quais eram as concepções de educação que estavam presentes no bojo das primeiras lideranças políticas do grupo e como pensavam a identidade, o projeto de futuro e a autonomia deles. Também questiona: “essas lideranças tinham consciência de estarem fazendo um trabalho coletivo, que ia além da defesa de seus direitos históricos? Sabiam que estavam afetando a própria sociedade brasileira em sua atuação?”. Assim como Nilma Lino Gomes, Munduruku destaca a produção de novos conhecimentos, alterações nas legislações e nos documentos oficiais, advindos da luta do movimento social.

Cabe a nós nos apropriarmos dessa produção e destacar os conhecimentos produzidos pelos movimentos sociais em nossas aulas. Se hoje utilizamos conceitos como branquitude, racismo ambiental, epistemicídio, contracolonialidade, quilombo urbano, corpoterritório, bemviver, dentre outros, é porque houve lutas que produziram tais conhecimentos que os desenvolveram. Sendo assim, o antirracismo passa também pela mudança de abordagem de conhecimentos. E tais abordagens somente são possíveis por meio de formação inicial (nos cursos de licenciatura) e de formação continuada (reuniões pedagógicas formativas, cursos de extensão).

Referências bibliográficas

BRASIL. Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, p. 11. 22 jun. 2004.

GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.

MUNDURUKU, Daniel. O caráter educativo do movimento indígena brasileiro (1970-1990). São Paulo: Paulinas, 2012.

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.