O ijexá como experiência no G2

Por Gabriely Araújo

Nas apreciações dos vídeos as crianças viveram o ritmo e se expressaram pelo corpo, pelo toque, pela dança e criação gestual.

O pequeno Pedro, aluno do G2, se conectou profundamente com o ijexá, ritmo africano explorado pelo grupo. Em alguns momentos, se aproximou dos instrumentos e da musicalidade. Em outros, decidiu colocar o corpo na dança, buscando viver as experiências que observou nos vídeos assistidos pela turma. “Pedro estava imerso na experiência, não só tentando reproduzir movimentos, como atento às vestimentas dos artistas, além de criar seus próprios gestos e dança.​ Pepê move seu corpinho pra lá e pra cá, bate seus pés, como quem é embalado pela maré”, conta a professora Juliana Guimarães. Ao assistir o vídeo da própria apresentação, ele bradou: “Ijexá. O show!”.

O trabalho com o ijexá, proposto pelas professoras Juliana Guimarães e Ana Paula Penteriche, teve como intenção a aproximação do ritmo, cultura e dança, além de trazer referências estéticas negras. A abordagem do multiculturalismo presente na Educação Infantil do Vera considera a diversidade e, assim, se contrapõe às desigualdades (étnicas, raciais, etárias, de gênero, econômicas, geográficas, religiosas) que atravessam a vida dos pequenos em sociedade.

Dezesseis crianças de 2 e 3 anos iniciaram a investigação do ijexá. Nascido em Ilejá, na Nigéria, o ritmo atravessou o oceano com os povos iorubás e chegou à Bahia. E essa manifestação se mantém viva pela resistência, como em grupos de afoxé, no culto das divindades africanas e nas práticas religiosas do candomblé e umbanda, tornando-se parte importante da cultura afro-brasileira.

Para aproximar as linguagens da música, movimento e expressão aos alunos, as professoras montaram um acervo audiovisual do ijexá. O primeiro contato foi com o artista plástico, cantor, poeta, diretor de dança e teatro, Benjamin Abras, com a música: “Tempero tempo”.

Ao apresentar Abras, em vídeos, “as crianças ficaram eufóricas com o ritmo e quiseram achar semelhanças com o bailarino. Quiseram tirar os sapatos e blusas para ficarem parecidos com o dançarino. Com a permanência dos contextos, as crianças foram se sentindo íntimas de Benjamin Abras, havia familiaridade, encontro, afeto e desejo de dançar junto”, relata a professora Juliana.

Com o apoio de mapas, os pequenos aprenderam sobre as origens do ijexá, no continente africano, e sua presença no Brasil.

Em outra etapa, as professoras mostraram as localidades nas quais se manifesta o ijexá. Por meio de histórias, elas discutiram com as crianças sobre a travessia do ritmo pelo mar com os povos iorubás. Com o mapa-múndi como pano de fundo, a história foi contada ao G2, com cada uma das crianças se aproximando, do seu jeito, da experiência que já carregava tantas camadas. “Eu já fui pra Bahia também”, manifestou um dos estudantes.


Entrando no ritmo

As professoras dividiram a turma em subgrupos, os quais se aproximaram mais do ijexá por meio de recursos audiovisuais, instrumentos e tecidos. Dessa maneira, as crianças compartilhavam seus encantos e percepções ao que viam, ouviam e sentiam.

“Ele tá pelado”, disse Francisco.

“Ele faz um corpo de aranha”, interpretou Vicente.

“Eu quero tirar a camiseta pra ficar igual a ele”, enunciou Julieta.

“Ele é um dançarino preto. Ele dança ijexá e faz corpo de aranha pra baixo”, observou Pippa.

Muitos deles entraram para a dança e, na tentativa de imitar Benjamin, fizeram seu próprio ijexá. O aluno Pedro, por exemplo, em alguns momentos optou por tocar um instrumento, noutros por dançar e, mesmo quando escolhia dançar, experimentava-se de jeitos diferentes. Quando dançou uma música do Duo Joanina, pegou um tecido brilhante e colocou sobre sua cabeça, pois a dançarina, Beatriz Cristina, usava turbante no vídeo.

Já a aluna Fillipa deixou evidente a facilidade e fluidez que tem pela linguagem da dança. “Eu também dancei Duo Joanina, eu estava de saia porque ela dança de saia”, contou a aluna. “Ela se atentou para todos os movimentos e gestos e reproduzia com a ginga que só Pippa carrega. Pés, pernas, quadris, braços, mãos, cabeça, Filippa não desconecta as partes de seu corpo, ao dançar, sua gestualidade é linda, fluida e complexa, de uma beleza indescritível. Na sua dança, ritmo, melodia, movimento e todos se encaixam lindamente. Escolhia com autonomia o ijexá que mais gostava, levantava a cabeça e flutuava pelo espaço, como que absorvida”, relembram as professoras, encantadas com a entrega de todos às atividades propostas.

E assim, por meio de vivências com um ritmo originário da África, suas provocações, convites, gestualidades, danças, instrumentos e estéticas, as crianças, familiares e professoras do grupo 2 se aproximaram de outras culturas, experimentando a cultura afro-brasileira.

Benjamin Abras

Dança Ijexá

Duo Joanina

Salve Ijexá

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.