: o alerta acompanha o abraço de Renato Moriconi ao entregar cada exemplar de seu novo livro O que incomoda o touro não é a cor mas o movimento (2023). O lançamento festivo ocorreu junto à exposição dos originais da obra vinculada ao selo o.tal, de livros para todas as idades da Editora Caixote.
Talvez pelo vinho, talvez pelo estímulo visual do papel vermelho semitransparente envolvendo a capa – ou seria a própria capa da tauromaquia? – sinto desejo de perguntar: por que desejaríamos incomodar o touro? Deixa o touro quieto eu penso, mas meus olhos se abismam no livro-arte, nas imagens do corpo masculino, contido na sobriedade do lápis preto, convocado pelo feminino, em pura expansão vermelho-rubro. E eu nem sabia que touros não distinguem cores…
Deixa o touro quieto, mas como se o próprio da leitura é o movimento? Seja o físico dos dedos no folhear das páginas ou nos giros orbitais dos olhos; seja o intelectual na dança das ideias. E danço com minhas amigas Isabel Malzoni, editora da Caixote, Cris Tavares e Denise Guilherme, professoras na pós-graduação “Livros para crianças e jovens”, do Instituto Vera Cruz, brindando à metáfora política do vermelho, mas não estático e partidário: o vermelho mesmo como movimento transgressor que invade as ruas.
E foram elas, dessa vez as alunas da pós, sem vinho mas olhos vivos, que flagraram o movimento entre os quadros, sempre por vir como num folioscópio, ou flipbook. Sim, é no imperceptível que se (a)guarda o impulso, ali – no entre – o nascedouro dos gestos.
Meus olhos correm páginas – correriam se fosse eu o touro? – agora tomadas pelo movimento da dama. Já não estou mais na praça dos touros, mas num tabuleiro de xadrez onde a cor, o tom, avança livremente e em qualquer direção. Tudo é ela e o rei se dobra. Nossas pupilas dilatam porque diferente dele, do touro, o vermelho, em nós, estimula a percepção, nos deixa mais focadas:
É Ariadne essa que adentrou o labirinto do Minotauro? Que faz ela diante dele? Do Minotauro? Ou de Teseu? Humaniza-se na convocação à dança o touro. Mas essa não é uma história romântica. Ainda não há lugar para dançar a dois, nos quadros somente há espaço para um dos corpos. E a mulher – que não é Ariadne, que não é a rainha, mas a mulher que é plural, a mulher que é levante – segue tentando expandir o seu. Com a força do corpo em movimento.
A feminista lituana Emma Goldman diz: “Se não posso dançar, essa não é minha revolução”. Citada na troca de cartas entre Christie McDonald e Jacques Derrida, essa frase é coreografada na dança da desconstrução. Derrida dirá “isto que na verdade não se deixa conquistar é – feminino”. Talvez pudéssemos substituir conquistar por capturar. E acho que Renato Moriconi desenha mesmo é com esse verbo.
Ol(h)é!
O que incomoda o touro não é a cor mas o movimento
Escrito e ilustrado por: Renato Moriconi
Editora Caixote (Selo o.tal)
2023
48 páginas