Os pequenos descobrem a beleza do cabelo crespo

Gabriela Del Carmen

Professores e coordenadores da Educação Infantil elaboraram atividades lúdicas para trabalhar o respeito às diferenças e ensinar sobre as culturas indígenas e afro-brasileiras. Ao longo do ano, foram feitas rodas de leitura com obras escritas ou protagonizadas por pessoas negras, com o objetivo de levar a representatividade cultural para dentro da sala de aula e apoiar a educação antirracista ainda na infância.

Ivete Fortunato, auxiliar do G2 que participou dos encontros de formação, conduziu algumas dessas experiências. De todos os livros que estavam disponíveis no Vera, o título que mais chamou a atenção foi Meu crespo é de rainha, de bell hooks. Publicada originalmente em 1999 em forma de poema rimado, a obra enaltece a diversidade e a beleza dos cabelos crespos e cacheados com uma linguagem simples, positiva e afetuosa. 

Indicada para crianças a partir de 3 anos, a obra apresenta diferentes cortes e penteados de cabelo afro. Busca celebrar e empoderar crianças e adultos negros com seus “macios como algodão” e “cheios de aconchego”. Enquanto compartilhava com o grupo o que aquele livro significava para ela, Ivete acariciava os próprios fios e mostrava para as crianças as semelhanças entre os desenhos e seu cabelo natural.

“É uma história que respeita nossas origens negras e mostra que toda forma de beleza é linda. Diante de livros como esse, nós, negros, vamos aprendendo a nos respeitar, a nos valorizar e a nos amar mais”, diz Ivete. Mais importante ainda, segundo a auxiliar do grupo, é a possibilidade de compartilhar essa valorização com outras pessoas e, principalmente, os mais novos. “Se a gente cuida das crianças e as ensina sobre esse respeito, transformamos o mundo para melhor. Elas crescem aprendendo a olhar para as diferenças de forma verdadeira e cuidadosa.”

“Me senti representada. Estava em processo de transição capilar para remover a química e deixar meus cabelos naturais, crespos. Me senti valorizada pelos textos e imagens”, conta Ivete. Quando foi convidada a ler uma história em sala, ela não teve dúvidas: “Vou buscar um livro que conta a minha história e a história do meu cabelo.”

A roda de leitura foi uma oportunidade para trabalhar a autoconfiança das crianças. Assim como Ivete, algumas delas se identificaram com os personagens da obra. “Parece o meu cabelo”, afirmou um pequeno. Para outros, a atividade permitiu identificar e valorizar as diferenças. “O meu cabelo é diferente. Esse é muito bonito também”, observou uma das crianças.


Representatividade em sala

O livro Os mil cabelos de Ritinha, de Paloma Monteiro e Daniel Gnattali, foi o tema central de uma roda de leitura do G4, também conduzida por Ivete. A obra conta a história de uma menina negra de cabelos crespos que, enquanto aguarda o nascimento do irmão, usa um penteado diferente por dia. “A narrativa mostra as várias formas de pentear e arrumar os cabelos”, diz Ivete. Naquele dia, ele levou seu pente garfo, usado para dar forma e volume aos cabelos crespos e cacheados, para a escola. “Expliquei sobre o meu cabelo black power e as crianças ficaram encantadas”, relembra. Ao final da leitura, Ivete mostrou como usava o pente garfo para ajeitar os fios e deixou que os alunos penteassem o seu cabelo. “Fiquei muito feliz. As crianças tocavam meu cabelo e diziam o quanto era macio e fofinho.”


O valor do nome

Por meio de cartas e desenhos trocados entre os alunos, as professoras Karina Marchini e Tatiana Vieira pediram para as crianças do G2 escreverem seus nomes em uma folha de papel e, depois, pesquisarem o significado e a origem de cada palavra. Depois, apresentaram a história da escolha dos nomes dos povos Guarani. “As crianças perceberam como o nome nas diferentes culturas tem um valor fundante na identidade”, dizem as professoras. “Ampliamos nossos conhecimentos pela linguagem da música. Foi maravilhoso ver as crianças se aproximarem da cultura dos povos indígenas”, complementa Karina. Os alunos ainda escutaram a cantiga guarani “Ñande mbaraete’i katu” e tentaram reproduzir os sons com chocalhos, reco-recos e instrumentos de sopro.

Luiz Lira

Luiz Lira morou em Pernambuco e lá iniciou o desenho. Ao vir para São Paulo, começou a fazer gravuras ainda criança, quando entrou no Instituto Acaia. Seus estudos tiveram relação com a capoeira, o desenho e a cerâmica; essas três vertentes estruturam o seu fazer artístico hoje. Posteriormente, ingressou no Instituto Criar e fez formação em Cinema. A partir daí, dedicou-se aos estudos para vestibulares em universidades, assim participou do Acaia Sagarana. Lira ingressou na Unicamp e atualmente cursa Artes Visuais.  A experiência universitária faz com que se aproxime de outros grupos de gravuras, como Ateliê Piratininga e Xilomóvel. Também tem contato com Ernesto Bonato, que é um grande artista e pessoa. Trabalha em ateliês compartilhados em Campinas (SP) e suas produções são semeadas em diversos espaços.