Literatura infantil: a voz da criança na palavra do escritor

Silvana Tavano

Resumo


Não sei dizer em que momento passei a ter medo de voar. Até os meus vinte e poucos anos, viajar era um prazer, e eu não me incomodava sequer com o desconforto de ter que atravessar a noite dentro de um avião. Por motivos tão impalpáveis quanto os ventos que provocam turbulências, isso foi se tornando um pesadelo; muitas vezes mudei os planos de férias por conta desse sofrimento — mesmo assim, continuei viajando de avião, até porque não tinha como não ir quando o trabalho exigia. Só que, desde aquela época, o prazer da viagem só começa quando piso com meus dois pés em terra firme. Durante mais de vinte anos trabalhando como jornalista, fiz reportagens mundo afora, e o que, para muitos, era um prêmio, para mim era um martírio. Ainda trabalhava em uma redação, em 2002, quando fui escalada para ir à Espanha; sem coragem de recusar o convite, voltei para a minha mesa em pânico, e naquele mesmo dia escrevi a história de uma bruxa que tinha medo de voar. Por que uma bruxa? Lembro que, noites antes, tinha lido para meu filho um trecho do livro Puxa, qual Bruxa?, de Eva Ibbotson, e só agora me ocorre que a protagonista da minha história talvez tenha algum parentesco distante com a de Ibbotson, a nada malvada bruxa Beladona. Mesmo sem nunca ter escrito para crianças, coloquei meu medo no caldeirão, contando com os poderes da personagem e a mágica das palavras, que sempre me ajudaram a entender e transformar as coisas. [...]


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