Uma rédea, um bridão

Sofia Mariutti

Resumo


Durante o banho, sinto as mandíbulas enrijecidas, um gosto amargo na boca, uma ardência no indicador esquerdo que me impede de esticar o dedo. O polegar da mesma mão está latejando, como se o coração batesse ali. Já o sangue no indicador direito parece ter estancado. Fecho os olhos e me vejo encabrestada, como um cavalo. Imagino então a rédea e o bridão, com sua embocadura f érrea. Sim, é disso que preciso, de alguma coisa que se encaixe na boca e impeça o movimento de minhas arcadas dentárias. Freios. A metáfora é manjada e eficiente, “pôr freio em alguém” significa reprimir, conter, limitar, moderar, e freios figurados também me cairiam bem. Mas nesse momento prescindo de qualquer conotação. Preciso de freios literais. Mais uma vez, passei dos limites roendo as unhas.

 

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