Desde o primeiro semestre deste ano, o Ilha de Vera Cruz adota o formato de classes multisseriadas na alfabetização de jovens e adultos. A ideia começou a tomar corpo depois de uma visita do Ilha à Escola da Ponte, em Portugal, no ano de 2010. Nessa visita, a coordenadora do projeto, Jussara Ferreira Paim, pôde acompanhar por dois dias o trabalho realizado com crianças e adolescentes agrupados por interesses temáticos e não por faixa etária. 

Em 2011, foi a vez de José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, visitar o Ilha de Vera Cruz e ministrar uma palestra para mais de 500 educadores interessados em ouvir mais sobre a riqueza do trabalho com alunos de idade, repertório e competências diferentes.

Essas ações foram propulsoras para que a equipe do Ilha se aprofundasse em estudos sobre classes multisseriadas e encontrasse fundamentação para a realização do trabalho. Na obra de Paulo Périsse, autor do livro Diversidade na cultura organizacional da escola,a equipeencontrou a reflexão de que o trabalho em conjunto nas salas multisseriadas ajuda a desenvolver a aprendizagem. “As crianças aprendema trabalhar juntas e ajudam uma às outras, sobretudo as mais velhas às mais jovens ou às que têm mais dificuldade. Cada criança trabalha com conteúdos apropriados para sua idade e o seu desenvolvimento, porém todas juntas”, defende ele.

A heterogeneidade presente nas classes de educação de jovens e adultos e a pluralidade de competências e experiências mostraram, de um lado, a impossibilidade de fazer cortes para classificar os alunos em série e, de outro, como os diferentes ritmos podem contribuir com o trabalho do professor na direção de organizar as situações de aprendizagem, desenvolver competências e não tirar o aluno do centro das ações pedagógicas.

Os alunos do Ilha de Vera Cruz participaram de uma atividade diferente no mês de agosto: uma sessão de cinema com o filme “A beira do caminho”, promovida pelo Cine B, em parceria com a Igreja Nossa Senhora de Lourdes. O filme foi visto pelos estudantes e pela comunidade no salão da igreja, localizada na Vila Hamburguesa.

Além de ampliar o repertório cultural dos alunos e promover discussões em torno de diversos temas, a atividade teve como objetivo complementar o trabalho realizado em sala de aula.

Para a coordenadora do Ilha de Vera Cruz, Jussara Ferreira Paim, essa experiência proporcionou aos alunos o contato com outra forma de contar história, que é a cinematográfica. “Os professores tentam conduzir as discussões na direção de que não há versão melhor ou pior, mas jeitos diferentes de ver o mesmo fato”, afirma.

Outro momento interessante que a atividade propicioufoi que os alunos puderam tratar de temas difíceis ou mal resolvidos em suas próprias vidas. Jussara conta que, nas discussões feitas depois de assistirem ao filme, os alunos mostraram identificação com alguns sentimentos, tais como abandono e esperança.