De onde vêm as histórias? Elas não estão escondidas como um tesouro na gruta de Aladim ou num baú que permaneceu no fundo do mar. Estão perto, ao alcance de sua mão. Você vai descobrir que as pessoas mais simples têm algo surpreendente a nos contar.
BOSI, Ecléa. Ao alcance da mão. In: ______. Velhos amigos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003.
O registro de memórias proposto no projeto possibilita aos alunos terem uma percepção sobre o passado e o presente a partir dos relatos de outras pessoas. Eles podem perceber que a história não é uma narrativa fria sobre pessoas ou fatos importantes, mas um conjunto de acontecimentos articulados, que devem ser compreendidos em sua riqueza e diversidade, levando em conta o ponto de vista de quem os apresenta.
O relato de memórias revela como organizamos e traduzimos para o outro parte daquilo que vivemos e conhecemos. As histórias pessoais são feitas com o que cada um consegue guardar seletivamente em suas lembranças.
A memória contribui para a construção da identidade, pois possibilita a elaboração dos conceitos de si, de nós e dos outros. O contato com as experiências dos entrevistados proporciona aos alunos o acesso a um passado comum, vivido por pessoas que chegaram antes, presenciaram e participaram de mudanças de diferentes naturezas. Quando criamos a oportunidade de conectar a experiência das crianças à experiência dos mais velhos, podemos refazer o fio da memória e fortalecer o sentido de identidade.
Etapas
1. Construção de um repertório, com leituras de textos de memórias de autores consagrados.
2. Entrevista com uma pessoa da comunidade escolar sobre histórias de vida ou experiências marcantes do passado.
A entrevista é uma maneira valiosa de despertar recordações. Esse momento de troca e diálogo entre duas partes revela uma autêntica prática de interação: quem conta e quem ouve. É um produto de coautoria do entrevistado e entrevistador.
3. Produção coletiva de um relato de memórias baseado na entrevista.
Os alunos decidiram o destinatário, selecionaram o que necessitavam para escrever, definiram começo e fim de texto, consultaram materiais para buscar maiores informações, releram e fizeram mudanças no texto ao longo da produção e revisaram-no globalmente até chegarem a uma versão aceita pelo grupo. Além disso, ao entrarem em contato com um gênero textual e trabalharem com a perspectiva dos propósitos da escrita, os alunos foram colocados em posição real de escritores.
Durante a produção coletiva, o professor se coloca como escriba do grupo, ou seja, auxilia a produção de um texto escrito a partir do registro oral. Nessa etapa, dois aspectos são problematizados: o que escrever (para isso, utiliza um roteiro) e como escrever (faz uso de recursos estilísticos que contribuem para a fluidez e adequação da produção).
4. Produção individual de um relato de memórias com base em entrevista.
Depois do texto coletivo, os alunos foram desafiados a seguir individualmente o mesmo processo, vivenciando as etapas anteriores: escolha de um entrevistado, entrevista e produção de um relato de memória.
Posteriormente, a intenção de socializar a produção com o público externo emergiu. Isso significou tornar o acervo de textos disponível para o público, divulgar o conteúdo e, sobretudo, incorporar os processos de registro e preservação da memória nas práticas da comunidade escolar. Como produto cultural, o trabalho passou a ter uma existência social, que transcendeu o grupo para atingir outras/maiores esferas.
Os resultados do projeto podem ser agora apreciados neste espaço.