Sofia Gutt Mateus
Eu me chamo Elisa, meu nome foi escolhido pela minha mãe, em homenagem a tia dela, que havia falecido um ano antes de eu nascer, em 1972.
Quando criança eu tinha medo de escuro, ficava parada na porta do quarto dos meus pais, até o medo passar.
Todas as férias eu ia passar pelo menos uma semana em Ubatuba, porque meu pai adorava o lugar. Me lembro de aproveitar a praia e de jogar bola com ele, era muito divertido! Outro lugar que eu ia muito, era a casa do meu tio. Era uma casa grande, com um jardim, uma delícia. Lá haviam muitos arbustos com dama da noite, até hoje, quando sinto o cheiro dessa flor, lembro do meu tio e de sua casa.
Eu também ia muito à praça Buenos Aires, lembro que lá havia uma estátua, e minha mãe me falou que, na época em que eu havia acabado de aprender a andar, eu ficava correndo em volta dela. Algumas brincadeiras que eu brincava muito eram amarelinha, esconde-esconde e gato mia.
Na minha infância, estudei em várias escolas. Quando pequenina, entrei em uma chamada Serelepe, onde fiquei até meus 4 anos de idade. Quando saí de lá fui para o Vera Cruz, e fiquei lá até o nono ano, pois no Vera ainda não tinha ensino médio. Depois fui para o Logos — uma escola que nem existe mais—com 15 anos.
Normalmente, quando somos crianças, sonhamos com muitas profissões, eu não fui exceção disso. Primeiro quis ser professora de ballet, depois de natação e depois professora, mas sempre amei a
ideia de ser médica. Uma grande influência para eu escolher minha profissão, foi meu tio, que já a seguia, mas isso é mais para frente, não vou me adiantar.
Fui sonâmbula, e isso me fez pagar alguns micos. Um dia — ou melhor, uma noite — eu estava em um acampamento, e de repente comecei a sonambular, eu andei e deitei em uma cama, que não era a minha, mas por sorte não havia ninguém dormindo nela. Tirei tudo o que tinha na cama e dormi. No dia seguinte, acordei ouvindo alguém reclamar que suas coisas estavam no chão, fiquei morrendo de vergonha. Outra vez, também em um acampamento, eu, enquanto todos dormiam, comecei a andar por cima das camas, com pessoas nelas, também foi muito vergonhoso.
Uma vez fui ao sítio de uma amiga, junto com mais uma amiga —ou seja, éramos três —e lá havia um caseiro que nos contou histórias de terror, nós ficamos com muito medo. Quando fomos dormir, juntamos nossas camas e dormimos juntinhas. No meio da noite, ouvimos um barulho, e saímos correndo, desesperadas. Foi muito engraçado.
Muitos anos depois, quando cresci, resolvi ser médica. A faculdade de medicina é bem difícil, e para mim, que nunca havia ficado de recuperação no colegial, foi um grande choque ser reprovada em uma matéria. Eu fiquei muito brava e disse para a professora que iria fazer direito (para ser advogada), e até hoje quando eu encontro essa professora ela me diz “ah, tá bom, vai fazer direito” só que em um sentido diferente do que eu havia dito…
Em meu quinto ano da faculdade, eu estava de plantão, quando apareceu um homem com várias machadadas na cabeça. Ele havia discutido com a namorada e ela havia ficado tão brava que bateu nele com um machado. Por sorte as batidas não tinham sido muito fortes, então os machucados não eram tão profundos, mas a gente levou um tempão para fechar todos.
Ainda nessa época, quando estávamos de plantão, tínhamos que cuidar de mendigos no pronto-socorro do lugar em que eu fiz faculdade – a Santa Casa. Eles chegavam muito sujos, cheirando muito mal, com piolho, mas não podiam tomar banho, pois também chegavam morrendo de frio, e se tomassem banho, perderiam o pouco calor que tinham no corpo. Então esperávamos eles se esquentarem, e enquanto isso, nós ficávamos sentindo aquele cheiro ruim.
A memória mais triste que eu tenho foi quando meu pai morreu. Eu tinha entre 28 e 27 anos. Ele fumava muito, então ficou doente, perdeu o emprego e acabou falecendo. Meu pai, era muito importante para mim, fico muito triste quando lembro disso.
Desde meu nascimento, até hoje eu morei em diversas casas. A primeira foi na rua Sabará, era um prédio, ele tinha um parquinho bem legal, uma piscina, morei lá até os sete anos, porque aí meu irmão nasceu e a gente precisou de uma casa maior. Fomos para a rua Dr. Luís Augusto de Queiroz Aranha, era uma casa, grande, no começo eu dividi o quarto com minha irmã, mas depois cada uma ficou com um quarto. Era bem perto da escola então eu ia e voltava a pé.
Depois meu pai adoeceu, e nos mudamos para uma casa alugada, pois ele perdeu o emprego e nós ficamos sem dinheiro suficiente para comprar uma. Essa casa ficava na rua Túlio Ascareli, foi uma parte bem difícil da minha vida, a casa era pequena e ficamos mal acomodados. Meu pai foi piorando, e fomos morar na rua Caiová pois lá ele não precisaria subir escada, apesar disso o lugar era bom, e ficava perto do metrô.
Após morar nessa casa eu me casei, e fui para um apartamento na rua Caravelas, nós o decoramos bem e ficou bem bonito. A minha próxima casa foi o apartamento em que fomos morar quando fiquei grávida de minha primeira filha, Sofia, pois achamos que com ela precisaríamos de mais espaço. Ele ficava na rua Dr. Bacelar, tinha uma varanda, uma churrasqueira, foi muito bom. Minha filha aproveitou muito a piscina e o parquinho do prédio, lá tinha um salão de festas, fizemos diversas festas lá.
O único problema era que aquele prédio ficava muito longe do meu trabalho e da escola da Sofia, por isso nos mudamos para o prédio em que moro até hoje, na alameda Jaú. Morávamos aqui quando nasceu minha segunda filha, Manoela. Gosto daqui, nós vivemos bem.
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