Então caí da moto… Espere, estou me antecipando. Ainda tenho coisas para contar, boas e ruins que você não vai acreditar! Vamos voltar no tempo para dizer-lhes alguns acontecimentos sem par da minha inesquecível infância.
Tudo começou quando abri os olhos pela primeira vez, na maternidade São Paulo em 1971 – a mesma onde nasceu o glorioso piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. Meu nome é Fernando Carril Cocco, que é de origem ítalo-hispânica, mas me chamam de Carril, depois explico o porquê…
Morava na região da Consolação – quando a cidade ainda não era tão buliçosa e a vida era mais pacata – e brincava bastante jogando bola com os meus amigos da rua, sonhando em ser astronauta ou ser goleiro da seleção brasileira!
Quando tinha por volta de seis ou sete anos, em um dia ensolarado, estava no Parque Ibirapuera – embaixo da marquise – com o meu pai ensinando-me a andar de bicicleta sem rodinhas. Foi tombo atrás de tombo, mas do dia para noite eu aprendi a pedalar. Esse fato teve um encanto especial, com sabor de aventura.
Desde então, sempre digo que quem anda de bicicleta escolhe o seu próprio caminho, assim como eu, atualmente sou apaixonado por ciclismo. Tanto que anos depois, um dos momentos mais marcantes com minha família foi quando ensinei minha querida sobrinha de seis anos de idade a andar de bicicleta. Senti um orgulho e uma emoção incrível ver o momento em que ela conseguiu andar sem rodinhas, como tempos atrás, meu pai havia me ensinado.
Recordo-me que estudei no Colégio São Luís – uma escola grande e bastante rigorosa – onde aprendi a escrever, a desenhar… Lá, construí mais um capítulo da minha história. Foi quase uma epopeia, que durou dezesseis anos e lá que começaram a me chamar de Carril, porque havia mais de um Fernando na minha classe. Mas também era conhecido como “irmão do Casa” porque meu irmão caçula era craque no futebol da escola e todos o conheciam – eu não era tão bom assim. Lembro-me que gostava muito de ler e escrever.
Um momento marcante na minha vida escolar, foi na sexta série, quando houve uma feira de profissões, por sorte fui sorteado para o que queria, jornalismo. Envolvia leitura e escrita e eu fiz muitos aparatos no meu projeto para representá-lo. Esforcei-me à beça para esse trabalho. Ficava dia e noite planejando: criei um telejornal para ser transmitido em uma TV e um jornal impresso. Fiquei orgulhoso com o meu pitoresco projeto.
Em minha puberdade assimilei muitas coisas diferentes, até demais…como aprender a dirigir prematuramente aos 14 anos. Foi quando aconteceu uma história um tanto peculiar que o abalou bastante. Um amigo de meu pai teve um infarto e só não morreu porque seu filho o levou até o hospital dirigindo. Desde então ele resolveu me preparar para um caso como esse, e aos 14 anos, já sabia dirigir. Fiquei muito feliz com essa experiência, mas sabia que só poderia exercer esse aprendizado aos 18 anos, quando tirasse a carteira de motorista.
Tempos depois, após terminar o colégio, formei-me em Jornalismo na PUC e Administração na FGV. Também fiz duas pós-graduações, uma em Educação no Senac e a outra em Cultura no Sesc. Apesar de ter trabalhado em muitos lugares, o meu trabalho mais especial foi como jornalista da Revista Placar durante a Copa do Mundo na França, em 1998. Esse evento foi muito emocionante e importante para mim porque eu consegui entrar em campo com seleções de diversos países e pelo luxo de ter viajado um mês pela França, conhecendo mais de perto a cultura deste país. Algum dia gostaria de voltar lá para ver o que se modificou.
Tive outros trabalhos, mas alguns anos se passaram, e fui contratado para criar UOL no celular. Foi um grande projeto que me ajudou na minha carreira e o site ainda é acessado com muita frequência até hoje.
Como gosto muito de livros e comunicação, tive a ideia de fazer o Bibliocirco em parceria com um amigo. É um projeto cultural cuja função é receber livros doados e repassar para novos donos através de intervenções artísticas circenses. Já fiz muitas apresentações e a mais recente foi no Parque Villa Lobos. Tenho muito orgulho deste trabalho, mas atualmente, depois que me tornei professor do Vera, precisei me afastar um pouco do projeto para dedicar-me às aulas do Ateliê de Invenções. Pretendo voltar em breve.
Por falar em Vera Cruz, um momento que me marcou bastante foi quando cheguei. Minha primeira aula foi dada para as professoras do Vera, e propus o desafio de construírem um robô que desenhasse. Estava tenso porque não conhecia ninguém e vice-versa. Foi difícil também porque os adultos tiveram mais dificuldade de compreender a proposta do que as crianças. Só um grupo de professoras conseguiram finalizar o robô, mas todas se divertiram e aprenderam muito! Deste dia em diante, tudo ficou mais fácil.
Agora sim é a hora certa para contar a história da queda de moto desde o começo. Isso aconteceu já adulto no meu aniversário de quarenta anos. Foi inesquecível! Aconteceram coisas que ora me pareciam boas e agradáveis, ora más e dolorosas.
No dia do meu aniversário, resolvi fazer uma virada cultural com familiares e amigos. Fomos ao teatro duas vezes na mesma noite e comemoramos com pizza. Fiz tudo que desejava e foi uma noite incrível porque nos divertimos e eu estava acompanhado de pessoas que admiro muito. Esta é a parte boa da noite.
Agora contarei a minha desventura desta noite… Mais tarde, quando estava saindo da pizzaria, um desastre aconteceu, algo inesperado… sofri a pior queda de moto junto de minha esposa. Estávamos nela rumo a minha casa carregado de presentes quando um pedestre atravessou repentinamente. Quando freei, inexoravelmente perdi o controle da moto e caí bruscamente no asfalto. Invariavelmente todo motociclista quando cai se machuca e comigo não foi diferente, quebrei a clavícula. Fiquei aterrorizado de dor, lágrimas inundaram meu rosto e levaram-me direto para o hospital. Aqueles minutos pareceram horas de medo, tensão e dor. Apesar da gravidade do acidente, me recuperei e não tive sequelas. E minha esposa, felizmente não se machucou.
Mas antes desses últimos acontecimentos, vivi uma grande experiência que faz parte das minhas memórias mais significativas. Um dia me perguntaram se conhecia alguém que gostaria de ir para o Japão e respondi que sim, eu mesmo. Deixei minha família no Brasil – esposa, pais, irmãos…- e morei lá durante um período de sete meses como jornalista. Aventurei-me por lá e adorei conhecer de perto a cultura japonesa: a comida, a língua, mas falava tão esquisito que os orientais achavam graça. Já, dos descendentes não era tolerado falar erroneamente. Voltei para casa depois desses meses e nunca esquecerei a experiência que lá tive. Ainda hoje me identifico muito com a cultura desse país.
Bom… já contei bastante do meu passado, vamos falar agora de futuro! Meus sonhos aumentam a cada dia, por isso eles estão em constante movimento, mas nunca mudam o propósito, que é aprimorar-me profissionalmente. Hoje, como professor, meu ideal é trabalhar em arte-educação e tecnologia fora do Brasil. E se tudo der certo, deixarei meus alunos do Ateliê, mas terei muitas outras memórias e sonhos para compartilhar com vocês…
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