Ah, como eu lembro…

Contada por Manuela Jordon Zanni

 

Meu nome completo é Bruna Ferriz Zanni, nasci em São Paulo dia 9 de Setembro de 1922, ou seja agora eu tenho 94 anos. Meus pais nasceram na Itália, meu único irmão mais velho, nasceu também aqui, pensavam que ele tinha um problema ortopédico e só descobriram que era neurológico quando fomos para a Itália, na minha primeira viagem com 3 anos, porque a medicina aqui no Brasil era muito atrasada.

Alguns anos depois, aconteceu outra coisa na minha vida. Eu estudava no colégio Dante, e na frente da escola quando eu tinha 7 anos, acabado de entrar na escola, havia 3 tipos de jornal e uma delas se chamava Gazeta Esportiva, e eles não sei porque, jogaram todas as máquinas de escrever no chão e puseram fogo! Eu fiquei muito assustada porque tinham muitos aviões em cima e a diretora mandou todos os alunos para dentro dos táxis para ir para casa. E me lembro muito bem que eu fiquei olhando da janela do carro todo aquele fogo na avenida São João ás 14:00 da tarde.

Todo dia, depois da escola, eu tentava lembrar as coisas que aprendia, e como meu irmão não ia na escola porque ele falava e andava mal, eu ensinava para ele tudo o que eu aprendia, mais eu era menina! Tinha só 7 anos! Meu pai me arrumou uns caixotes, morava numa casa que tina um porão habitável e arrumei lousa, e juntei a turma do bairro e ensinei a turminha a ler e escrever!

Um lugar que eu já morei foi perto da Lopez Chávez na Perdizes, e todo dia que eu ia na feira, eu encontrava a cozinheira do Mário de Andrade, indo comprar pão na padaria! Era muito legal porque ela me contava sobre as coisas do Mário!

Quando meu marido me pediu em casamento, o pai dele me levou para um coquetel e ele fez o pedido. Eu fiquei muito feliz, e é claro, aceitei. Tive dois filhos com 22 anos: o Flávio, que agora tem 69 anos e a Marina que tem 71 anos.

Desde de pequena eu sempre quis cuidar de números, sempre adorei matemática, tinha ótimos professores, sempre tirei nota boa, era a boa aluna da classe, não bagunçava, sempre quis deixar minhas coisas arrumadas e me concentrava muito, por isso era muito boa aluna.

No Dante nos aprendíamos coisas da Itália, estudávamos história, literatura, tudo! E eles mandavam professores de ginástica, então, aqui, tinha as olimpíadas infantis e acontecia lá no clube Pinheiros que antes era chamado de clube Germânia, e a maior parte dos sócios eram alemãs, e então já que eu me destacava muito em ginástica eu era modelo! Eles punham uma mesa e eu ficava lá na frente fazendo exibição, muito diferentes, com raquete de tênis. E eu e as minhas amigas ficávamos uma de frente para a outra e uma fazia um movimento e a outra fazia um diferente. Era muito bonito!

Uma de minhas melhores amigas que eu tive com 13 anos, que ainda é minha melhor e mais querida amiga, foi morar na Itália e ela dizia que se sentia desterrada porque ela era Brasileira! E eu e ela ficamos muito tristes, e quando adulta, eu fui para a Itália, e meu marido me deixava sozinha com ela e minha amiga me levava para todos os cantos de Veneza! Conhecia coisa que ninguém conhecia!

Eu queria me formar em matemática, mas, não deu porque em 1942, dia 22 de agosto o Brasil entrou em guerra, mandaram tropas para a Itália e morreram 400 brasileiros! Eu fui no cemitério lá na Itália e encontrei 400 cruzes! Depois eles trouxeram para o Brasil, está aqui no Ibirapuera! Naquela época nem todo mundo se formava.

Bom, espero que tenham gostado de uma parte da minha vida. Ainda tenho muitas histórias para contar, mas não quero deixar vocês com sono!

 

 

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