A história de Leonel de Oliveira, Léo, como é carinhosamente chamado, começa no Espírito Santo, na cidade de Vitória, onde nasceu.
Como alguns brasileiros, que foram criados na roça, começou a trabalhar muito cedo, diferente de muitas crianças que moram na cidade. Desde pequeno, aprendeu o que é ter responsabilidade porque seu pai era ajudante de caminhoneiro e quando saia pelo mundo lhe dizia que “suar é bom, suar tira a preguiça”.
E foi assim que o pequeno Léo, na época com quatro anos, aprendeu a trabalhar! Na ausência do pai, sua mãe o carregava para a roça onde colhiam café – debaixo dos pés- e cortavam cana. Enquanto os trabalhadores enchiam os sacos da colheita, ele lembra que pegava um bule bem grande da cozinha e levava para a plantação de café, lá colocava os grãos que colhia; e essa, era a contribuição do pequeno grande trabalhador. Também ordenhava as vacas no terreno do avô que criava cabrito, ovelha e outros animais.
A televisão havia chegado ao Brasil há uns 15 anos, porém não na casa deles, que nem rádio a pilha tinham. Dessa forma, seu irmão e ele dormiam cedo escutando histórias que sua mãe contava.
Hoje, recorda-se de uma fase, que ainda pequeno viveu e, mais uma vez, a vida lhe ensinou a superar. Foi quando a mãe, ele e seu irmão foram ao encontro do pai e mudaram-se para o Paraná e lá viveram por quase dez anos!
Para alguém que não teve muita infância, entre os tempos de trabalho e a perda do irmão, ele conseguia se divertir e, para brincar, construía balanços e seus próprios carrinhos de mão que fazia com lata de óleo, pedaço de madeira e para as rodas, recortava chinelos velhos. Em sua lembrança era algo que ficava muito bonito. Menino que tinha responsabilidade de gente grande, mas era criança e, do jeito que dava, vivia aprontando, pulava de muro em muro pegando limões, outras frutas e ovos de galinha da vizinhança.
Nesta época, a mãe que sempre teve uma saúde frágil, engravidou de sua irmã. Durante alguns anos, com a mãe na cama por ter contraído uma doença infecciosa – tuberculose- Léo recorda-se que ajudava a lavar roupa, louça e, para alcançar a pia, subia em um banquinho.
1974! Ano de tristeza e mudanças! Quando a irmã, que hoje mora em Vitória, completou cinco anos, sua mãe morre por causa da doença que atacara seu pulmão. Dessa forma, outra fase se iniciaria- o retorno à cidade natal, Vitória. Ele e sua irmã foram morar com familiares e vizinhos. A vida tinha que continuar.
Frequentou a escola até a antiga 4ª série e aprendeu a ler “depois de velho”- como diz-. Afinal, com quatorze anos, esse menino já tinha vivido muito! A escola era no período noturno e lá não tinha iluminação. Por isso, todo dia, levava um lampião a gás que ele próprio fazia com uma lata para iluminar a sala e a professora com outro lampião iluminava a lousa.
Em 1982, enganado por uma tia que dizia que tinham que tentar uma vida nova, que seria por pouco tempo e que sua vida iria melhorar, chega a São Paulo muito triste e sem nada. Recorda que chorou muito e, claro, tendo que enfrentar outras novas dificuldades. Foi morar numa favela que depois de uma chuva, o barraco onde dormiam desmoronou. Sua tia, num ato de loucura, jogou tudo que era seu fora.
Sem condições, com poucas roupas e tendo que sobreviver, resolveu fazer coxinha, porque “o povo gostava de fritura” para poder ganhar dinheiro. São Paulo tinha muitas construções, obras e era lá que vendia seus salgados acompanhados de bolinho, café e leite para os trabalhadores.
As necessidades e a vontade de vencer continuavam a guiar sua vida. Coisas boas também aconteciam e, nesse período, conheceu a mulher com quem resolveu formar uma família.
Morou na casa de um homem que era muito rígido e não o tratava bem. Cuidava do jardim e da piscina. A comida era pouca, saiu de lá muito magro, “podia até tocar piano em suas costas”. Essa experiência lhe rendeu um aprendizado que utiliza até hoje, a receita de um pão maravilhoso que todo ano faz para o Feito por Nós, festa que acontece anualmente na Escola Vera Cruz onde tudo que é arrecadado vai para ajudar uma instituição. E aí ele começa a ajudar o outro.
Para chegar nessa escola, onde está até hoje, trabalhou num condomínio como faxineiro e ajudante geral, mas tinha que procurar algo que lhe desse maior tranquilidade porque, muitas vezes, não tinha dinheiro nem para pagar o seu almoço. Sofreu muito, porém não desistiu.
Em sua busca, o destino lhe coloca na frente um, também, migrante que morava com ele na pensão. João, que trabalhava na escola, lhe sugeriu que fosse fazer uma entrevista porque iria voltar pra Bahia e seu cargo estaria vago.
Desde então, esse capixaba construiu sua vida sempre com muito esforço. Hoje, com 55 anos, 35 vividos aqui em São Paulo, diz ser muito feliz e agradecido por ter uma linda família e trabalho.
É casado com sua companheira da juventude, a querida e amada Iolanda, que foi batizada de Orlanda. Afinal, até isso tinha que ser diferente em sua vida. Têm quatro filhos e quatro netos.
Diz que os filhos até sentem ciúmes dele com seus netos. Faz questão de dizer que “Eu não tive o que eles têm hoje”, falando com orgulho de suas conquistas. Com certeza, as palavras de seu pai, que vive em Vitória, mas com quem não tem muita relação, ajudou-o a chegar onde chegou, afinal continua afirmando até hoje: “Para vencer, não pode ter preguiça, tem que ser honesto e trabalhar”.
O menino que nunca teve sonhos, agora tem um: se aposentar com saúde para curtir cada vez mais seus filhos e netos.
Esta é a história de Leonel que continua a nos surpreender com sua força e coragem. Um homem guerreiro, positivo que teve e enfrentou todas as dificuldades que a vida colocou em sua frente com muita dignidade e raça.
11 Comentários
Tom Leão
27 de junho de 2016em 21:52Parabéns! Da vontade de ler essa história mais e mais vezes. Para intender realmente o esforço e o tempo gastos para fazer essa verdadeira obra de arte que conta realmente a heróica vida de Léo,um verdadeiro guerreiro que mostrou garra em suas aventuras.
Tom Leão
27 de junho de 2016em 21:58Adorei o texto!!!!!!!!!A coragem de um capixaba é realmente emocionante de se ler que me deixou emocionado.
nicole
27 de junho de 2016em 22:495 B
Parabéns o texto ficou muito bom.
Adorei a parte que vocês contam que ele começou a trabalhar co 4 anos.
Parabéns!!!
Ana e Lorena
28 de junho de 2016em 00:03Amamos o texto, ficou realmente incrivel! Parabens para a classe do 5 ano B .Adoramos a escrita, bom trabalho, continuem assim!!! 🙂 🙂 🙂 🙂 🙂 🙂 🙂
BJS:ANA E LORENA !
Maria Mercadante
28 de junho de 2016em 01:42A história ficou muito boa.
Lendo fica muito mais emocionante do que escrevendo.
Gabriela Menezes Gontijo
5 de fevereiro de 2018em 22:40NOSSA isso sim que é trabalhador PARABÉNS 5- B adorei o trabalho de vcs
ESTOU ADORANDO TEXTO DE MEMÓRIAS !!!!!!!!!!
tonin
1 de abril de 2020em 13:28q coisa legal
tonin
1 de abril de 2020em 13:28q coisa legal e triste 😉
Rafaela farhat de Carvalho
1 de abril de 2020em 13:51Que historia linda!!!!
Pedro D
22 de março de 2021em 16:23Muito legal o texto ficou muitooooooooo bom eu li 3 vezes de tão bom
Laura Coutinho Lafraia
27 de abril de 2021em 15:41Ficou linda a história adorei todo o texto ficou lindo, adorei como ele superou todos os desafios que ele teve que passar. Espero que ele consiga o que quer.