“Nem tudo está no Google”, disse Marta Pinto Ferraz-nossa adorável ex-professora de biblioteca da Escola Vera Cruz – ao relatar uma de suas experiências vividas. Registramos aqui suas memórias. Espontâneas como um livro e grandes como um dicionário.
Ela nasceu na insólita cidade de São Paulo, porém suas mais incomparáveis aventuras foram vividas no sítio de seu avô na cidade de Amparo, junto com seus primos e dois irmãos mais novos – Marcos e Mauricio.
Seu avô – Dr. Demétrio – foi, para ela, uma forte e rija nogueira, sua grande inspiração como leitor e contador de histórias. Ela adorava ficar na varanda da casa jogando “buraco” e escutando suas histórias com sua voz carinhosa e mansa que a aquecia mais que todos os cobertores do mundo… Essa relação era mútua, Marta diz que era a “queridinha” do avô.
Apesar de ter muito espaço no sítio para brincar, correr, subir nas árvores, era uma menina mais pacata, diferente de seus irmãos, mais ativos e esportistas. Mesmo sendo calma, lá viveu aventuras inesquecíveis… Tomava banho de cachoeira, capturava girinos no rio e se divertia com os primos no pomar. Gostava também de brincar de Tarzan, porém ficava sempre como “atora” coadjuvante contra sua vontade.
Entre todas as brincadeiras uma das que mais se empolgava era brincar de “escolinha”. Ela era sempre a professora maravilhada em ensinar seus alunos: um ursinho, as bonecas de porcelana, as de pano… E talvez isso tenha sido o “trampolim” para ela exercer com tanto amor a profissão quando adulta.
Sempre visitava uma escola vizinha ao sítio que só tinha uma professora e uma sala de aula com alunos de diferentes idades: uma fileira para crianças de 7 anos, outra para os de 8, 9, 10… Marta – que morava numa cidade grande – ficava embasbacada ao ver a educadora indo e voltando para a escola usando uma carroça. Nunca mais se esqueceu dessas imagens que retratam a vida numa cidade pequena.
Entre as boas emoções da sua infância, também houve sustos de verdade! Durante uma noite no sítio de seu avô, enquanto os adultos jantavam, Marta, seus irmãos e primos brincavam de “onça” – um tipo de cabra cega – em um quarto escuro. Aconteceu o ruim, o verdadeiro drama! Maurício se escondia embaixo da cama quando seu primo pulou em cima dela fazendo-o bater o queixo no chão. Na hora não perceberam o que havia acontecido. Até que decidiram acender a luz e… todos ficaram assustados! Seu irmão estava envolto numa “cachoeira” de sangue!!! Quando viram aquilo todos ficaram horrorizados, preponderantemente sua mãe que chegou até a desmaiar! Descobriram que o caçula havia batido o queixo num prego pronto a machucar alguém. Foram ao hospital mais próximo e tudo terminou com alguns pontos no queixo do menino e uma volta antecipada para São Paulo.
Marta viveu com o pai, a mãe e irmãos até os dezoito anos, quando seus pais se separaram – seus olhos inundaram-se de tristeza ao falar disso. Que tempos difíceis!!! O avô, mais uma vez, foi seu anjo da guarda nesse triste acontecimento. Ao morar somente com sua mãe e estudar na faculdade de Ciências Sociais, precisava trabalhar para ajudar nas despesas de sua família. Foi quando começou a procurar emprego e foi contratada por uma escola próxima a sua casa. Tornou-se professora auxiliar de Silvana D´Avino, sua eterna amiga e hoje colega no Vera Cruz.
Enquanto trabalhava nessa primeira escola, foi convidada por uma amiga para ser professora do Vera Cruz, mas recusou esse convite tão esperado porque estava no meio do ano letivo e não queria deixar seus alunos. Depois de algum tempo, saiu da escola para ajudar seus irmãos em um novo negócio, um restaurante. Marta não ficou satisfeita com esse novo trabalho, não era o que desejava fazer da vida. Decidiu então, abrir uma oficina de papel machê junto com Silvana.
Novamente recebeu uma proposta da Escola Vera Cruz e desta vez a aceitou com o maior prazer e empolgação. E assim ela iniciou uma nova fase da sua vida profissional mudando a vida de muitos alunos banhados com sua sabedoria e histórias feéricas. Contou alguns episódios sem par dessa trajetória!!! Um deles foi o seguinte: estava dando aula na biblioteca, tropeçou na estante e quando percebeu que ia cair, imaginou que seria debochada pelas crianças e se sentiria muito constrangida… Sabem o que ela fez? Simulou um desmaio forçado e suspirou “AAAhhh!!”. Os alunos ficaram assustados e preocupados com sua perfeita atuação. Com efeito, assim foi e assim aconteceu, e essa história ela nunca mais esqueceu.
Outro fato ocorreu mais recentemente. Marta nos contou que em uma aula começou a não se sentir muito bem, mas conseguiu terminá-la mantendo-se firme. Porém, com o passar do tempo sua voz foi ficando enfraquecida, passou a ter dificuldades para ficar em pé, sentia-se tonta e teve que se sentar. Desta vez não conseguiu resistir e acabou pedindo ajuda para a Martinha, nossa ex-bibliotecária, que amedrontada e trêmula enfrentou a forte preocupação e acionou ajuda rapidamente. Aqueles sofridos minutos de espera passaram como horas rodeadas de adultos muito preocupados com seu estado que parecia piorar a cada instante. A ambulância chegou e a levou ao pronto-socorro. A caminho do hospital, Marta estava tão debilitada que viu “estrelinhas” ao redor de sua cabeça prestes a desmaiar. Mais tarde a escola recebeu a feliz notícia que ela estava melhor, ia precisar de um tratamento, mas logo ficaria bem. Todos ficaram aliviados. Este acontecimento foi um dos mais dramáticos. Depois de algumas semanas estava de volta e seu coração batia forte novamente.
Marta inicia este ano uma nova fase. Está deixando a Escola Vera Cruz para espalhar, a outros cantos do Brasil, sua sabedoria. E nós guardaremos suas histórias em nossos corações doloridos de saudades.
Dentre tantas páginas viradas nestes anos, dentro e fora da biblioteca, aqui, escrevemos e viramos mais uma…
9 Comentários
Roberta Gorski
21 de junho de 2016em 20:08Eu amei o texto!! uma historia muito legal e emocionante. Parabéns esta muito bem escrito!!!
JOAQUIM
27 de junho de 2016em 21:15Adorei quando ela falou que nem tudo está no Google.
Gabriela Menezes Gontijo 5- E
10 de abril de 2018em 14:12concordo muito legal isso
Beatriz Bittar
28 de junho de 2016em 13:23Parabens! Adorei o texto,muito legal!
ale battaglia dias
28 de junho de 2016em 15:36EU achei muito legal quando ela caiu e os alunos invez de cairem da gargalhada ficaram preucupados
ale battaglia dias
28 de junho de 2016em 15:36EU achei muito legal quando ela caiu e os alunos invés de caírem da gargalhada ficaram preocupados
MATIAS AVILA
29 de junho de 2016em 12:23meu vô tambem lê historias para mim e eu gosto.
Rodrigo C. Lerner
9 de abril de 2018em 23:26que maravilha de texto, muito bem escrito, bem detalhado e fascinante.LEGAL!!!!!!!!!
Gabriela Menezes Gontijo 5- E
10 de abril de 2018em 14:10eu adorei a parte que ela falou que uma professora dava aula para crianças de 7,8,9 e 10 anos como ela fazia isso devia ser muito estranho!!!!!!!!