Tomaz Amaral Porto Gonçalves
De todas as frases e versos que já ouvi, a que mais me recordo foi “viver é perigoso”. Está frase foi comentada por Mario Gonçalves – também conhecido como “meu avô” – que está com 83 anos atualmente. Com sua personalidade excêntrica, engraçada passou por várias aventuras ao longo de sua vida, mas as que vou contar agora são como uma gota de acontecimentos, num grande oceano de histórias.
Tudo começou no início do século XX, quando Palmira e Prudêncio, vindos de Portugal, desembarcaram no porto do Rio de Janeiro – mal sabiam que lá mesmo teriam um filho. No dia 23 de abril de 1933, em pleno outono, nasceu Mario. Palmira deu ordens concretas para Prudêncio e seu irmão o nomear Jorge – pois era dia de São Jorge. O que aconteceu foi exatamente o oposto do que Palmira pensava: ao chegar ao cartório, eles o nomearam Mario; sem mais nem menos.
Com o passar dos anos foi para uma escola pública chamada Vera Cruz. A decisão não foi tomada por seus pais e sim por ele mesmo, ao avistar piscina e quadra poliesportiva. Mas isso não era nada comparado ao que ele mais gostava, o lanche! Havia creme de chocolate, mingau e um monte de outras gostosuras.
Uma época teve uma professora chamada Irene, ela era um doce de pessoa! Um dia na troca de lugares, Irene colocou Mario na frente porque achava que ele tinha problemas de vista. E estava correta, podendo cada dia comprovar mais.
Ela recomendou que Mario fosse ao oculista, o que ele fez. Na primeira vez que botou os óculos, saiu para dar uma olhada na rua e tomou um susto, viu um novo mundo! Formigas, sujeira e coisas que nunca tinha visto! Foi uma revelação inovadora
Aos 14 anos, saiu de casa buscando emprego. Achou trabalho de office boy – pessoa que entrega as papeladas e documentos -, mas lá no fundo não gostava muito. Então, ele tentou fazer um teste para entrar em um cartório, ele ficou muito nervoso e foi mal no teste, mas mesmo assim foi contratado. Hoje em dia ele é o titular do lugar, ou seja, nunca desista.
Mario se casou duas vezes. Com a primeira mulher teve duas filhas – Marize e Marcia minhas tias -, depois se casou com Bel – minha avó – e teve Mariana – minha mãe. Bel não morava na cidade do Rio de Janeiro, e sim numa cidade no sul do estado – onde Mariana iria morar por vários anos – Resende.
Resende é uma cidade calma, cheia de natureza, com gente muito amigável. Lá eles tinham – e ainda tem – uma casa muito grande e bonita com piscina e uma mata que pertence ao terreno. Mas havia um porém, cobras. Lá era infestado de cobras. Até uma coral, sim verdadeira e verdadeiramente venenosa.
No ano letivo, meu avô ia para o Rio trabalhar durante a semana – menos no sábado e domingo -, então Mariana e Bel ficavam sozinhas em casa. Para prevenir roubos, instalaram um alarme com feixe de luz, mas todo bichinho que passava pelo feixe disparava o alarme, e elas duas morriam de medo.
Para compensar a semana no Rio, eles ficavam juntos na casa de campo. Essa casa tinha um ribeirão que passava dentro do terreno. A casa ficava em uma cidade ao lado de Resende, Penedo. Penedo é uma colônia de refugiados finlandeses que fugiram durante a segunda guerra mundial. A decoração, a cultura, as danças tudo é incrível. Nessa cidade fica o Pico das Agulhas Negras, ele é muito íngreme, muito gelado e muito alto! Um dia Mario tentou o impossível, escalar o pico. Depois de muito esforço chegou a uma gruta, e lá escreveu seu nome no livro dos escaladores, pensando “realmente viver é perigoso!”.
As aventuras não ficam só no Brasil, mas também nas viagens. Mario teve muitas experiências inesquecíveis, como viajar para a cidade natal de seus pais, Baldos – localizada em Portugal. Nessa viagem conheceu todos os seus parentes. Ainda tem outras duas viagens favoritas, uma delas foi para Londres, onde aconteceu uma coisa marcante – posso explicar melhor porque presenciei. Estávamos no estúdio do Harry Potter, na lojinha para ser exato, e pedi para meu avô segurar um sapo de chocolate. Só que sem perceber, ele colocou no bolso. Quando chegou na hora de pagar, pedi o sapo, mas ele disse que tinha colocado de volta na estante, então eu peguei outro. Pagamos e fomos para o hotel. Ao chegar lá, meu avô sentiu uma coisa estranha na calça, quando mexeu tirou do bolso o primeiro sapo de chocolate! Havíamos roubado! Não intencionalmente, mas roubamos! O estúdio ficava a uma hora de ônibus de Londres, então eu acabei comendo os dois sapos de chocolate – foi mal, não deu para resistir e não tinha como voltar para devolver.
A outra viagem foi para Disney, quando tivemos uma surpresa no avião. Estávamos no ar rumo a Orlando quando de repente aparece uma figura, o mais malfeito Papai Noel do mundo! Eu fiquei morrendo de medo, não queria que ele me visse e eu me escondia debaixo do banco. Mas claro, Mario, exercendo seu papel de avô, insistiu que eu o encarasse durante a viagem inteira. Por um lado, a situação era engraçada, mas por outro eu estava aterrorizado.
E assim termina essa história de uma vida com todo esplendor e glória, conquistas e descobertas, mas o que nunca muda será o espaço de Mario no coração de todos nós, leitor e escritor.
1 comentário
Pedro Ferros
28 de junho de 2016em 14:46Seu texto estava ótimo parabéns !!! Seu texto está cheio de detalhes e muito bem explicado. Gostei mais da parte que vocé fala que seu avô foi trabalhar office boy