Sonhar é bom

Marina Heck Eli

MARINA

“Uma das coisas mais importantes da vida é seguir seus sonhos e persistir neles”, disse Matias Eli, um homem de muita coragem. Tem quarenta e cinco anos e é meu pai.

Nasceu na Argentina em Buenos Aires, como todos de sua família. Com três anos de idade já tinha os pais separados―que tempos difíceis! Morou com sua mãe durante cinco anos.

Quando completou oito anos, recebeu um convite especial de seu pai, que tinha vindo morar no Brasil com sua nova esposa e seu filho Ramiro, que também nasceu na Argentina. Seu pai lhe disse: “Meu filho você já mora há cinco anos com sua mãe. Quer vir morar comigo?” Meu pai que não aguentava mais sua mãe lhe dizendo: “Vai tomar banho!” ou “Você tá atrasado pra escola!”ou “Você já fez a lição de casa?!” enquanto ele estava jogando cartas com os amigos, ou no meio de uma partida de rugby – um jogo Argentino que ele admira até hoje. E vendo ali uma oportunidade única respondeu mais feliz que alguém que acabou de ganhar na loteria: “Sim, sim, é claro papai!” Ele vinha para cá apenas nas férias. Sentia saudades das brincadeiras do irmão, do acolhimento do pai e das incomparáveis sobremesas da madrasta- que se chama Maria.

Quando chegou em São Paulo estava, apavorado, totalmente fora de si, com um medo terrível. Ele pensava: “E minha mãe, o que deve estar fazendo agora?! Comendo? Cochilando? Ai que medo!” Mas ao mesmo tempo estava, embasbacado, maravilhado, mais feliz que qualquer pessoa poderia estar naquele momento. Também existiam bons pensamentos naquela cabecinha: “Eu vou morar com meu pai! Eu vou morar com meu pai!”

Em Buenos Aires, naquela cidade de “congelar a alma”, seus passatempos prediletos eram: jogar vídeo game, montar pequenos “arranha-céus” com lego, jogava rugby como eu já havia dito, e assistia TV que naquela época era preto e branco.

Já no Brasil, este país tropical, ele adorava aprontar. Passava o dia andando de bicicleta e skate na rua, mas nunca deixou de jogar o tão admirado rugby.

Quando fez dez anos, aconteceu uma coisa inédita em sua vida: sua irmã nasceu. Claro que meu pai e seu irmão de cinco anos ficaram morrendo de ciúmes da irmãzinha. Ele não tirava da cabeça um único pensamento: “Essa bebê nojenta só sabe fazer três coisas: coco, chorar e dormir” Quando ela cresceu um pouco meu pai começou a chantageá-la: “Se você não deixar uma fruta no pé da minha cama, um monstro terrível vai te devorar.” A pobrezinha era pequena e ingênua e fazia tudo o que o maldoso irmão mandava. E o Ramiro só ria das malvadezas de meu pai.

Um pouco mais velho com uns onze, doze anos, ele ia a represa Guarapiranga com seus dois amigos, Lucas e Patrik― também argentinos― para velejar. Foi assim que ele criou dentro de si um certo “amor” por esse esporte. Sua primeira velejada foi em um catamarã- um barco “duplo”- ele teve medo mas… Também sentiu-se como um aventureiro, prestes a descobrir novas coisas. Este sentimento significava que ele estava dando um passo de sua vida, ele estava prestes a descobrir o que queria para si, isso iria levá-lo a fazer grandes coisas… Uma semente foi plantada dentro dele.

Ele casou-se com minha mãe- Carolina. Depois de um tempo eles perceberam que ela estava grávida- grávida de mim. Então ele comprou um veleiro… Quando em uma manha dia 10 de outubro de 2005 eu decidi nascer. Matias estava no trabalho, veio voando assim que soube da notícia, pegar minha mãe para ir para a maternidade. Ele sentiu-se de um jeito inexplicável, pois eu sou sua primeira filha. Dois anos depois em plena madrugada, dia 9 de dezembro de 2007 sua segunda filha nasceu- a Sofia- ele se sentiu exatamente igual, porém um pouco menos assustado.

Alguns meses depois, ele chegou sério para Carolina. (a semente está crescendo) “Quero dar a volta ao mundo velejando.” Minha mãe, com uma criança de dois anos e um bebê de colo respondeu, com os olhos marejando: “Se isso vai fazê-lo, feliz vá em frente. Siga seu sonho.” Ele encantado com a resposta inesperada da mulher, começou a lacrimejar.

Dois meses depois, o barco chamado BRAVO, já estava pronto para partir. Então Matias se despediu e seguiu em frente. Na viagem ele se sentia livre,  pronto para fazer qualquer coisa. Ele vinha nos visitar e nós íamos visitá-lo. Agora, leitor, você deve estar perguntando: “e as viagens você não vai falar delas?” Mas as viagens, já são outras histórias…

Quando ele voltou já tinham se passado dois anos. Desde então, sua última viagem de veleiro foi de Ubatuba até Paraty. Ele diz que a próxima volta ao mundo irá ser com as filhas.

E com está história, aprendo como é bom sonhar e realizar seus sonhos, custe o que custar.

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