Teo Reibel Annenberg
Meu avô, Alexandre, tem, e sempre terá histórias incríveis para contar. Mas, são tantas que não caberiam nem no maior livro do mundo. Mesmo assim aqui estão as memórias mais marcantes, incríveis e inesquecíveis da infância até seus 50 anos que se pode ouvir dele, meu incrível e querido avô.
Alexandre teve uma infância divertida nas ruas de São Paulo, sempre brincando. Principalmente de bolinha de gude, uma de suas brincadeiras preferidas. Sempre que tinha tempo acampava com os amigos nos diversos terrenos baldios que havia na rua. Nesses mesmos terrenos fazia um pouco de tudo, críquete – que é igual ao taco – futebol e várias outras brincadeiras, embora fosse mais calmo e gostasse muito mesmo era de jogar jogos de tabuleiro. Mas isso não tornava as coisas menos divertidas, pelo contrário: ele quase só voltava para casa para as refeições.
Mas até em casa havia pelo menos uma brincadeira garantida: xadrez, com seu pai, um verdadeiro craque. Provavelmente o motivo que o tornou mais tarde um campeão nesse jogo. Por ser filho único era muito bajulado, principalmente por seu pai. Entre as recordações com a família se lembra nitidamente do dia, do feliz dia, em que seu pai, estrangeiro, acumulou dinheiro suficiente para comprar um automóvel. Era um automóvel pretão, dos antigos. Aquele dia foi realmente uma festa, um dia inesquecível!
Desde os sete anos tinha permissão de ir, com sua bicicleta, até sua escola, a escola britânica. Lá, na primeira parte do dia só falavam português e, na segunda, só inglês. Além disso, também eram muito rígidos em relação ao esporte, todos tinham que estar em forma e o pior: todo dia, no mesmo horário, era necessário dar uma volta no bairro, e meu avô que, que, como eu disse, não era muito atlético ficava sempre em último. Mas também havia os pontos altos como quando, um dia, estavam no recreio quando de repente, em cima deles passa voando um Zeppelin, uma espécie de avião, porém movido a gás. Foi, para ele, uma sensação absolutamente indescritível.
Algum tempo mais tarde, Alexandre, que não aguentava mais a disciplina em relação aos esportes resolveu concorrer em uma prova. O objetivo da prova era entrar em uma outra escola, o Colégio Estadual Fernão Dias. A prova era difícil, eram 560 pessoas para apenas 50 vagas, mas ele passou e não foi uma simples vitória, ele ganhou em primeiro lugar!!! Aquele foi um dia sem par da sua infância. Ouve festa, muita festa. E esse foi um dia em que ele simplesmente não esqueceu!!!
Houve muitas outras histórias em sua nova escola, porém, pulemos essa parte e vamos direto ao seu trabalho. Alexandre se formou em engenharia eletrônica, na faculdade ITA. Logo após arrumou emprego na Olivetti, uma empresa italiana, que fabricava máquinas de escrever e que havia começado, a pouco, negócio no Brasil. Meu avô não passou muito tempo trabalhando aqui, quando foi promovido a trabalhar na Itália. Porém não ficou lá por muito tempo, um ano depois foi promovido de novo a trabalhar na sua pátria. Lá ele trabalhou por 15 anos e nesse período viveu aventuras incríveis, uma das quais contarei mais tarde. Depois, foi convidado a trabalhar pela Sharp, mas só ficou por três anos, pois, de novo foi reconhecido e convidado a trabalhar na Dataprev, mas não em um simples cargo, ele foi convidado a ser presidente!!!!
Agora chega, talvez, a parte mais emocionante e empolgante de sua vida. Isso aconteceu quando ele ainda era sócio da Olivetti, na época da ditadura. Naquele tempo, quem tinha uma opinião diferente a do governo era caçado e preso, mas meu avô resolveu ajudar os caçados por este terrível governo. O esquema que ele usava para livrar os fugitivos era complicado e arriscado, porém funcionava. Era assim: ele abrigava os fugitivos em sua própria casa, às vezes eles ficavam lá uma noite, ou em outras, semanas. Depois arrumava um jeito de o fugitivo viajar até algum país vizinho, principalmente para a Argentina e para o Paraguai. Então, nessa parte do esquema, a Olivetti ajudava: por ser uma empresa italiana conseguia arrumar passaportes falsos para viajarem a Itália. E lá ficavam os fugitivos até as coisas se acalmarem. Ele se lembra como se fosse ontem o dia que, enquanto abrigavam um fugitivo, viram pela rua passando uns policias, todos armados. Por pouco não invadem sua casa. Tensão e medo não faltaram naquele dia.
Além das histórias que eu contei há muitas outras que compõem o livro da vida de Alexandre, mas elas todas não caberiam aqui. Por isso aqui, finalizo o texto agradecendo meu querido avô que, com muito entusiasmo, quis compartilhar suas memórias.
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