91 anos de Benedita da Silva

Por Joana Storto

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Benedita da Silva foi babá de minha avó e do meu pai quando era jovem. Agora tem 91 anos, mas é muito saudável.

Dedé (como a chamamos) nasceu em Santa Rita do Sapucaí no sul de Minas. Vivia com sua mãe e seus dois irmãos, em uma rua só de casa de gente pobre, casinhas iguais a dela que só tinha uma porta para entrar, chão batido, uma cozinha e um quarto.

Todos os seus parentes eram legais e felizes, o seu avô, já de idade, que era carreiro, puxava carro de boi. Quando criança, brincava o dia inteiro na rua. Sua brincadeira preferida era roda, uma que fala “Eu sou pobre, pobre, pobre vou morar aqui. Eu sou rica, rica, rica…” Quando chegava a noite, sua mãe a chamava para entrar, mas ela queria ficar mais e suas amigas pediam para a sua mãe deixar, ela olhava para a Dedé e falava “Pode ir!” Ai ela via que não era para ir.

Mas a mãe dela morreu cedo quando ela tinha sete anos. Ela morreu de pneumonia.

Conheceu uma moça na sua terra que era de São Paulo e fez amizade com ela e pediu para arrumar um emprego para ela porque na casa que trabalhava, trabalhava a troco de comida e roupa não tinha salario, ela deu o endereço de uma amiga para a mulher escrever porque se eles soubessem não iam deixar ela vir, ela veio escondida, muito ansiosa.

De manhã cedo pegou sua malinha e foi. Pegou o trem e quando chegou na primeira estação e com muito medo de ser achada, encontrou a polícia que estava lá esperando ela para levar de volta. Mas falou assim “Não vou mais ficar aqui, chamem meu avô!” O avô dela foi, conversou e falou “Se ela tem lugar para trabalhar e quer ir para São Paulo eu autorizo! Pode ir!” Ela tinha 18 anos.

Telefonou para a pessoa que ia para a casa dessa mulher e lá tiveram que mandar dinheiro para ela. Essa mulher que deu dinheiro para ela foi na estação buscá-la. Chegou lá, não encontrou esta mulher. Veio um rapaz que perguntou “A senhora está perdida?” E ela disse “Completamente!” “Quer que eu leve a mala para a senhora?” “Quero! Olha eu tenho que ir para Pinheiros, você poderia me levar até lá?” Ele a levou no lugar onde se pegava o ônibus para Pinheiros. Quando chegou lá, estava lá a moça que tinha ido buscar ela na estação e não a tinha achado.

Foi trabalhar na casa de uma mulher de Pinheiros. Ela achava a mulher com quem trabalhava chata. Um dia estava na feira e encontrou uma senhora da terra dela que disse “Nossa você aqui!?” “É estou trabalhando com essa senhora!” Ela falou “Ah vai no hospital São Lucas que a Carminha esta lá, está cheio de gente de Santa Rita.”

Ai ela foi para o hospital. Quando chegou lá, a Carminha falou assim “Benedita eu vou levar você para trabalhar na casa da sobrinha do João ela tem um filho e está precisando de uma babá. Se ele gostar de você, você está feita!” Era o Gilberto (o irmão de minha avó) ele tinha um ano e cinco meses. Ai ela foi lá na Dona Netinha (a mãe de minha avó) tratou e cuidou dele.

Foi trabalhar com minha avó Cristina, ficou lá até casar. Mas nunca se afastou. Ia sempre lá. Mas depois seu marido morreu e escolheu a gente como família. E sempre a tratamos e vamos tratar como nossa família.

6 Comentários

  1. Juliana

    Seus comentários *Joaninha: foi muito emocionante ver todo seu envolvimento desde a preparação da sua entrevista com a Dedé, o cuidado na transcrição da gravação, a dedicação na elaboração do texto! A Dedé é uma pessoa muito especial na nossa família e seu texto deixa isso evidente, o resultado do seu trabalho foi lindo. Parabéns meu amor

  2. Arnaldo Ribeiro

    Seus comentários *Primeiro perfil da Jojô. Seguindo os passos jornalísticos do pai orgulhoso. Personagem perfeito, a Dedé. Parabéns, filha!”

  3. Maria Thereza Godoy

    Que história linda! E que conclusão emocionante!
    Parabéns a Joana que escreveu tão bem essa história, mostrando que família também são pessoas que ecolhemos e aprendemos a amar!!

  4. Eliane Ribeiro Gago

    Seus comentários *Jojo Parabéns! Linda narrativa sobre nossa querida Dedé, você conseguiu resumir 91 anos de história em alguns parágrafos de forma clara e muito emocionante. Orgulhosa da minha sobrinha.

  5. Eliane Ribeiro Gago

    Seus comentários *Jojo Parabéns! Linda narrativa sobre a vida da nossa querida Dedé. Você conseguiu resumir 91 anos em alguns parágrafos de forma clara e emocionante.

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