Viajando todo dia

Tomás Barbara Valentim

Elisabeth e seus irmãos eram tão animados, que não conseguiam esperar absolutamente nada. Sempre iam para casa de sua avó. Como era a mais velha tinha que se controlar mais que os outros. Mas por dentro, se animava como uma bomba prestes a explodir! Além de ser uma garota que gostava muito de falar.

Tomas

Iam de trem. Uma alegria e satisfação para todos: ela, seus irmãos Antônio e Margareth, e sua mãe Juliska. Iam para casa de sua avó todas as férias, todos os dias. Sua avó não morava sozinha. Morava com seu filho José Carlos.

Como crianças comuns, gostavam de um bom doce. Mas não tinha um doce especial e sim um monte de doces, de bolo, o “mil folhas”. Tinha de tudo. Muito mais muito bom. Pois sua avó não gostava de cozinhar, amava cozinhar. Mas entre tantos doces, uma fruta marcante foi a melancia. Porque sua avó comprava o carrinho inteiro e guardava-as no porão com seus irmãos. E como ela adorava.

Na fazenda adorava criar brincadeiras. E também gostava de fazer deliciosos piqueniques, onde traziam um monte de gostosuras e garrafinhas de guaraná caçula de vidro, caminhar bastante e nadar no rio do lado. Como tinha medo, só seus irmãos andavam a cavalo (nem mesmo tentaria subir em um).

Elisabeth adorava ler. Todo tipo de livro. Trazia consigo seus livros, grossos e grandes. Mas não era só para ela ler, para sua avó também. E quando acabava a leitura dava os livros para sua avó (já que morava em um lugar sem biblioteca).

Ainda com as estrelas no céu, sua avó já estava de pé. A quatro horas da Elisabeth trazia vários livros para ler. E quando os terminava dava eles para sua manhã. Mas não porque queria, mas sim porque tinha seus afazeres, como cozinhar, limpar e arrumar, ainda que tivesse duas pessoas ajudando-a em sua moradia.

Sua avó e sua mãe são imigrantes. Vieram de Budapeste, na Hungria, com cinco filhos: Juliska (sua mãe), Tereza, Miguel e Mareta.

Aproximadamente aos dez anos nas férias, Elisabeth foi para a casa de sua avó, como sempre fazia. Então, em uma noite qualquer todos foram dormir: José Carlos e Antônio em um quarto, Juliska, Margareth e Elisabeth em outro, e sua avó no quarto ao lado. As três garotas foram se deitar, quando viram uma aranha, enorme e peluda. Uma confusão sem fim. As duas filhas ficaram com medo e começaram a berrar estrondosamente! Sua avó ouviu os gritos e perguntou o que estava acontecendo. Como sua mãe sabia que ela ficaria triste, disse que estava tudo bem. Não queria deixá-la sem graça.  Então foi até a cozinha, pegou uma vassoura e a matou. Mas não conseguia dormir, nem mesmo se chamasse um gênio da lâmpada, pensando: “vai chegar outra, vai chegar outra, vai chegar outra…”.

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Anos depois, cheios de alegria e diversão, acontecimentos e memórias inesquecíveis, Elisabeth se casou e teve um filho chamado Fabio, (que se tornou arquiteto) teve dois filhos, Tomás e Rosa. Depois de certo tempo Elisabeth se separou, casou-se novamente e teve mais dois filhos, chamados Guilherme e Rita. Guilherme (que se tornou médico) teve duas filhas, Helena e Isabel. Rita (que tornou -se cozinheira com um programa de televisão) teve um filho e uma filha, Dora e Gabriel. Mais tarde, tomou-se uma professora de sociologia na PUC. E para completar, arranjou uma cadela chamada Pipoca, que trouxe muita alegria para essa família cheia de esperança.

Sendo professora, inspirou-se para fazer doutorado, e na sua dedicatória ofereceu em homenagem a sua avó, Margit Kárászt Nagy, por tudo que fez por ela. Foi graças a sua avó que ela conseguiu uma boa história para ser contada em um texto de memórias. “Entre tantas recordações em sua vida, você sempre acha uma para se inspirar no dia-a-dia.”

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