Lorena Marques Trotta
Lendo a vida de Otília imediatamente é possível se identificar com seu jeito porque assim como muitas de nós, foi uma menina muito brincalhona e muito esperta. Nascida em 1944 no século XX , ela morava em São Paulo , e era a primogênita de três . Quem a deu vida foi: Ângelo Bocchini marceneiro e Maria Caldeira dona de casa, ótimos pais, de bom coração.
Infelizmente na época em que ela nasceu o mundo não estava em um bom estado, e dessa vez não era um ou dois países, o mundo inteiro estava envolvido: estava acontecendo a segunda guerra mundial. E foi no meio dessa algazarra que ela nasceu.
Todos no Brasil estavam com medo pois muita gente acabava morrendo. Eles apagavam a luz de suas casas para que quando os helicópteros passassem com a intenção de bombardear o país, iriam achar que os moradores já tinham abandonado o lugar. E assim viveram durante anos, no meio da escuridão.
Depois dessa grande guerra obviamente o país entrou em uma crise financeira e funcionava de um jeito bem diferente, o dinheiro que as pessoas ganhavam dependia de quantos membros havia na família, se a família era grande eles ganhavam mais dinheiro do que uma pequena.
O dinheiro que ganhavam não era muito, de manhã quando os homens iam ao açougue comprar carne, não podiam sequer escolher o tipo, ganhavam apenas os restos da carne uma coisa desagradável, pegavam as piores partes do animal.
Depois de um tempo a guerra terminou, mas a economia continuava ruim. Otília não tinha uma boa moradia: morava em uma pequena casa na rua Harmonia número 28. E o pior é que já não bastava a casa ser pequena, mas também era dividida com uma velhinha. A única parte que tinham da casa era um quarto e um jardim, tudo era espremido no pequeno quarto, exceto pelo fogão a carvão que ficava do lado de fora.
Otília e seus pais eram os três únicos da família que moravam em São Paulo, os outros moravam no interior. Maria, sua mãe, era super criativa e sempre dava um jeito de fazer tudo correr bem, e quando faltava travesseiro na casa pedia a sua mãe [vó de Otília ] que morava em uma fazenda para lhe mandar galinhas, assim as cozinhava para fazer frango e pegava as penas das coitadas para confeccionar travesseiros fofinhos e aconchegantes.
Quando Otília fez quatro anos soube que um novo membro entraria na família. Era um novo irmão que se chamava Aldo. E assim tiveram que espremer mais um berço na pequena casa.
Ainda na tal crise econômica Otília pediu uma boneca de natal. Na época elas eram de porcelana e se caíssem no chão quebravam. Seus pais perceberam o quanto ela queria a boneca e passaram dez meses pagando.
Otília era uma ótima aluna e por isso se dava muito bem na escola. Lá na Godofredo Furtado, sua escola que ficava na Rua Lisboa, havia uma sala de cinema mas não cabiam todos no local e podiam ir somente os mais espertos. Os filmes que eles viam se tratavam sempre do mesmo tema: cowboy e mocinha. Era um momento esperado por todos os estudantes.
Ao fazer dez anos seus pais deram a notícia que iam se mudar para Catanduva, que fica no interior. Otília não ficou feliz, mas mesmo assim foi. Quando chegou encontrou uma moradia melhor, a casa era maior e só da família. A cidade era menor que São Paulo, com menos habitantes, menos movimento e poluição.
Logo quando chegou ganhou o irmão caçula Antônio Ângelo, o único catanduvense.
O programa de televisão favorito de Otília era Sítio do Pica-Pau Amarelo. Ao ficar mais velha apareceu um vício por histórias em quadrinhos, mas os pais daquela época não deixavam os filhos ler esse tipo de revista, então as crianças tinham que ler escondido.
Um passeio legal para ela era ir à procissão vestida de anjo.
Depois de um tempo Otília percebeu que não gostava do interior e que queria voltar para São Paulo.
Ao ver sua filha sofrer, Ângelo e Maria levaram a filha para uma viagem a São Paulo.
Mas foi só quando ficou adulta que ela voltou a morar em sua terra natal. Escolheu fazer letras, no começo em Rio Preto, mas depois se transferiu para São Paulo e foi estudar na USP.
“Nunca desistir dos seus sonhos, nunca desistir de querer um Brasil melhor” são os conselhos de Otília. Hoje aos 72 anos continua sonhando e lutando pelo Brasil.
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