Por Ricardo Maman Millan
Lourdes tem 92 anos de vida e é minha avó. Nasceu em 18 de junho de 1924, morou quando pequena em Pirassununga. Tem muitas memórias interessantes, diferentes, malucas e divertidas para nos contar com muita alegria. Ela é mãe do meu pai.
Começou a estudar com quatro anos, no jardim da infância, ao lado da casa dela onde morava em São Paulo, quando foram para lá. Ela ia para a escola junto com seu irmão dois anos e meio mais novo. Era uma escola só para brincar. Como a escola era vizinha – com o muro que dava para o quintal da casa dela – a mãe de Lourdes passava o lanche por cima do muro. Isso é engraçado, pois hoje em dia não aconteceria. Tanto que ela guardou como uma memória marcante. A mãe dela passava sanduíches e bolachas.
Foi para o Sion aos doze anos. Era uma escola só de meninas. Tinha uniforme que era uma saia azul marinho, uma blusa branca, sapato marrom com meia três quartos branca, chapéu azul marinho e luva branca de algodão. Chegavam na escola, tirava a luva e o chapéu e colocava um avental.
Na escola elas falavam francês o dia inteiro, mas o Getúlio (Vargas – presidente do Brasil na época) proibiu isso. Depois dessa decisão só podia falar francês na aula de idioma, não podia mais falar fora da aula – isso em todas as escolas que falavam outras línguas o tempo todo.
A escola era semi-internato e elas ficavam lá das oito horas até as quatro da tarde. Elas almoçavam lá. Não podia conversar no almoço e uma das crianças da mesa era responsável pelo comportamento das meninas que sentavam naquela mesa: “o anjo da mesa”. Ela nunca foi o anjo.
“Sabe como as pessoas comiam antigamente a banana? Com garfo e faca! Cortava dos dois lados, abria no meio, afastava a casca para os lados e partia a banana em rodelas”, contou Lourdes.
Estudou lá até sair para a faculdade Sedes Sapiens, também só de meninas. Mas os professores eram todos homens. Estudou História e Geografia. Os meninos normalmente iam para colégios de padre, só de meninos. Essa época era um pouco machista, pois haviam coisas que só meninos faziam e outras coisas que só meninas podiam fazer.
Uma lembrança boa foi quando ela teve uma filha e queria que fosse menina. “Queria ter uma menina para cuidar dela como minha mãe havia cuidado de mim”, relatou. A mãe sempre falava “que bom que você teve uma filha, porque a filha fica mais perto dos pais”. O hospital que a sua filha nasceu era o Pro Matre Paulista e lá eles tratavam com mais carinho porque era um hospital maternidade e não era muito cheio. A Bia – sua primeira filha – nasceu de fórceps, porque estava sentada. Foi um parto dolorido e sacrificado, mas muito feliz porque vinha ao mundo sua alegria.
Lourdes agora é uma senhora muito simpática que mora perto da Escola Vera Cruz, na Vila Madalena. É muito divertido brincar e fazer companhia a ela, como no dia em que meus pais foram para a reunião na escola. Minha avó é importante para mim porque ela me dá presentes, me faz companhia e sempre será uma das melhores avós. Essas foram algumas das grandes memórias de Lourdes, quem sabe algum dia poderei escrever mais algumas.
1 comentário
Mônica A. M. Millan
29 de junho de 2016em 14:37Ri, adorei o seu texto! É um texto gostoso e dá vontade de ler, não só pelas histórias, mas também pelo jeito que é escrito. É bem humorado e contado de um jeito que só você sabe fazer. a gente lê e imagina você contando!
Parabéns pela dedicação! Beijos! Mônica